A Morte Silenciosa Nascida no Berço da Maldade

Por Fernando Puhlmann

"Se você fica neutro em situações de injustiça, você escolhe o lado do opressor."

Desmond Tutu

 

Lá se foi ele. Silenciosamente. Um jovem de 14 anos, portador de Síndrome de Down, que deveria ter na escola o seu porto seguro, seu espaço de crescimento e alegria. Em vez disso, encontrou ali a sua forca moral. O palco da humilhação final foi um banheiro, e o público, a infâmia viralizada em grupos de WhatsApp.

A história é fria e devastadora: fotos roubadas no momento mais íntimo, a imagem de sua vulnerabilidade jogada na rede como um prato para a chacota. A escola, a responsável legal por zelar por cada passo daquele garoto, simplesmente olhou para o lado. A gestão sabia. Havia um "histórico problemático" com os agressores. Mas, no balcão da complacência, a vigilância foi substituída pela omissão. Ou pela ganância, não tenho informação concreta se a escola é pública ou particular.

A condenação de R$ 30.000,00 por danos morais, proferida pelo TJSP, é um valor minúsculo. Não se trata de uma indenização; é um recibo da falência. O dinheiro não resgata a vida interrompida, nem limpa a mancha na dignidade. O jovem se foi durante o processo. Se a Justiça pode tardar, o sofrimento, infelizmente, não espera.

Este caso não é apenas um alerta para a escola; é um grito de guerra para toda a sociedade. A escola falhou no dever de vigilância máxima que um aluno com deficiência exige. A vulnerabilidade não é um detalhe; é uma baliza que deveria acender o alerta vermelho de qualquer gestor minimamente responsável. Ignorar um "histórico problemático" é assinar, em papel passado, o aval para a próxima tragédia.

Mas este texto precisa apontar o dedo para outro lugar crucial: o berço da maldade. Quem são os pais que criam filhos que encontram prazer em aniquilar o colega mais frágil? Onde está a responsabilidade paterna e materna na gênese do agressor?

Os tribunais brasileiros têm sido claros: a responsabilidade dos pais por atos de seus filhos menores é expressa no Código Civil. Se a escola é objetivamente responsável por negligência (in vigilando), os pais são, invariavelmente, os primeiros culpados pela formação moral falida de seus filhos. Eles têm o dever de guarda e, com ele, o dever de educação.

Não basta condenar a escola. É preciso que a Justiça e a sociedade lancem luz sobre os pais que, com sua ausência ou péssima orientação, soltam PREDADORES SOCIAIS no ambiente escolar. É hora de culpabilizar os pais dos infratores com a mesma veemência com que condenamos a instituição de ensino. Que o valor da indenização, por mais insuficiente que seja, pese no bolso de quem falhou em primeiro lugar: no educar para a empatia, no ensinar o respeito e no coibir a crueldade.

O banheiro daquela escola foi um ponto cego fatal, um túmulo da inocência. Que a memória deste jovem nos obrigue a transformar todos os banheiros, pátios e grupos de WhatsApp em espaços seguros. E que o preço da omissão e da má criação seja cada vez mais alto, para que nenhuma outra vida seja silenciada pela viralização da maldade.

Autor
Sócio-cofundador da Cuentos y Circo, Puhlmann é um dos principais especialistas em YouTube do país, com um olhar focado em possibilidades de faturamento na plataforma e uma larga experiência em relacionamento com grandes marcas do mercado de entretenimento. Além de diretor de Novos Negócios da CyC, tem também no seu currículo vários canais no país, entre eles o do escritor Augusto Cury, do Gov Eduardo Leite, Natália Beauty e do Grêmio FBPA, sempre atuando como responsável pela estratégia de crescimento orgânico dos canais. Já realizou palestras sobre a nova Comunicação juntamente com diretores do YouTube Brasil como a abertura do 28º SET Universitário da Famecos-PUCRS, o YouPIX/SP e o Workshop YouTube Gaming Porto Alegre. Desde 2013, Puhlmann ministra cursos, seminários e oficinas sobre YouTube, tendo mentorado mais de 30 canais nos últimos anos.

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