Coopítulo 50 - Reconhecimento geral

Por José Antonio Vieira da Cunha

Anos depois de seu fechamento, o Coojornal recebe ainda o reconhecimento de sua trajetória e relevância em inúmeras reportagens, artigos e trabalhos acadêmicos, em especial aqueles de conclusão de curso, produzidos com entusiasmo e paixão por jovens estudantes de Comunicação. Mas mesmo antes, em plena circulação, o mensário da Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre despertava a admiração e reconhecimento de leitores, colegas e instituições, como a vibrante Associação Brasileira de Imprensa, cujo jornal dedicou uma página a exaltar a importância da iniciativa gaúcha e explicitar a solidariedade da entidade quando a Polícia Federal fez uma violenta pressão política e econômica sobre o jornal. "Temos o compromisso de empenhar a ABI na defesa dos direitos constitucionais desta publicação", escreveu o presidente Prudente de Morais, em agosto de 1977.

"Retratos Brasileiros: 20 anos da imprensa alternativa", um estudo da jornalista Sônia Virginia Moreira, ganhou o Prêmio Torquato Neto ao compor um estudo sobre a trajetória de nove jornais: Coojornal, Ex-, Movimento, O Bodinho, Opinião, Pasquim, Pif Paf, Versus e Repórter. Sônia escreve que a imprensa nanica "refletiu um momento especial dentro da história da imprensa brasileira". Na obra, resgata as ações criativas desenvolvidas por estas publicações para chegarem às bancas, captarem anunciantes e, mais relevante, para enfrentar a censura, as perseguições e os inevitáveis transtornos e dificuldades causados por estas ações de uma máquina governamental moralista e repressora por excelência.

Ao resumir a história do Coojornal, Sônia o apresenta como "a primeira tentativa de organização de jornalistas brasileiros através de um sistema cooperativista". E conclui, convicta:

- A imprensa alternativa criou um espaço autônomo para a expressão de ideias, linguagens e formas, saindo dos parâmetros que existiam na grande imprensa do país.

Naqueles anos de chumbo, o jornalista Marcos Faerman foi um dos que se notabilizou como um aguerrido militante da imprensa independente. Em duas décadas atuando como repórter do Jornal da Tarde, de São Paulo, este gaúcho de Rio Pardo empilhou prêmios de reportagem, entre eles um Esso, na categoria Informação Científica. Vinculado ao Partido Operário Comunista, foi assíduo visitante de prisões provocadas pelo Dops, o Departamento de Ordem Política e Social da ditadura. Extrovertido e polêmico, e sempre em uma trincheira de oposição ao regime militar, deixou o JT para se dedicar a abrir espaços na imprensa alternativa, e deixou um currículo invejável como um dos criadores do Ex- e do Versus, dois expoentes da imprensa nanica. 

Assim, é com absoluto conhecimento de causa que, em um artigo denominado 'Os grandes nanicos', resgata momentos de um Jornalismo "feito com coragem e paixão, fosse por veteranos da imprensa ou por focas", uma paixão que era "respondida pela mais impiedosa repressão - e crueldade". Marcão considera este segmento da imprensa como "magníficos laboratórios de jornalismo", e afirma, convicto:

- A imprensa alternativa foi um ato de bravura diante de um estado enlouquecido de poder. Jornalistas viveram nesse período - por ousarem ser jornalistas - em clima de terror. Mas nunca deixaram de ser jornalistas, apesar das permanentes invasões de redações, policiais rondando nas portas de suas casas, vasculhamento dos impostos de renda, ameaças telefônicas, explosões de bombas em bancas de jornais, apreensão de edições inteiras de suas publicações, até que elas se tornassem inviáveis. 

Ao dissertar sobre estes grandes da imprensa alternativa, enumerando títulos destacáveis como Opinião, Movimento, O Bondinho, O Grilo e O Repórter, dá ênfase ao produto da organização cooperativa:

- Não se pode esquecer o jornalismo de primeira, com grandes reportagens, denúncias e ótima linguagem, do Coojornal, de Porto Alegre. 

São muitas as referências que orgulham esta trajetória da Cooperativa dos Jornalistas - logo logo resgataremos outras mais.

Autor
José Antonio Vieira da Cunha atuou e dirigiu os principais veículos de Comunicação do Estado, da extinta Folha da Manhã à Coletiva Comunicação e à agência Moove. Entre eles estão a RBS TV, o Coojornal e sua Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre, da qual foi um dos fundadores e seu primeiro presidente, o Jornal do Povo, de Cachoeira do Sul, a Revista Amanhã e o Correio do Povo, onde foi editor e secretário de Redação. Ainda tem duas passagens importantes na área pública: foi secretário de Comunicação do governo do Estado (1987 a 1989) e presidente da TVE (1995 a 1999). Casado há 50 anos com Eliete Vieira da Cunha, é pai de Rodrigo e Bruno e tem quatro netos. E-mail para contato: [email protected]

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