In forma (19/03)

Por Marino Boeira

POR QUE TE CALAS?

Depois que a mídia tradicional, principalmente o jornal e a televisão, se tornou definitivamente um negócio que precisa dar lucro no fim do mês e em muitos casos é parte de um complexo empresarial, as chamadas redes sociais se transformaram no único canal para as críticas ao sistema.

Não é por acaso que as entidades de classe dos empresários de comunicação fazem campanhas permanentes contra essa mídia alternativa sobre a qual não têm controle, usando a desculpa de combater as fake-news.

Historicamente no Brasil as grandes mentiras (as tais fake news) foram criadas e divulgadas pela mídia tradicional. O exemplo maior é a Rede Globo, sempre defendendo e promovendo as piores causas políticas do País a começar pela ditadura militar implantada em 1964 com seu apoio.

Regionalmente ninguém esquece que o principal jornal do Estado,  Zero Hora, foi criado a partir da liquidação da antiga Última Hora cujo "crime" foi  promover o governo nacionalista de João Goulart.

Ironicamente, Zero Hora, era a denominação de um espaço no jornal reservado para as notícias que chegavam pouco antes do fechamento da edição. Quem procurar o primeiro número da ZH vai encontrar um editorial defendendo o golpe de 64.

O outro jornal de Porto Alegre, o Correio do Povo, é ligado ao grupo da TV Record e faz parte do grupo da Igreja Universal, o que em princípio é uma péssima recomendação.

 Mais do que veículos de comunicação, a  Zero Hora e o Correio do Povo são ligados diretamente a outros tipos de negócios. No caso de Zero Hora ao setor imobiliário, o que afeta diretamente sua credibilidade como veículo de comunicação e o Correio do Povo a uma religião profundamente obscurantista.

As emissoras de TV com seus mais importantes horários vinculados às matrizes no Rio e São Paulo e as de rádio, voltadas quase que totalmente a segmentos específicos de público, há muito que não têm mais nenhuma influência política ou cultural junto à maioria da população.

As redes sociais têm então, a partir dessas constatações, um espaço enorme para se transformar numa área de grandes debates sobre as questões políticas e culturais do país.

Infelizmente isso acontece muito pouco. A maior parte das postagens envolve questões superficiais e de interesse escasso para a maioria das pessoas e quando por acaso alguém pauta um assunto mais universal, os comentários quase sempre se transformam em bate-bocas.

Uma pena que seja assim, porque deve haver muita gente, inclusive aqui no Facebook, onde escrevo, com contribuições importantes a fazer sobre o momento político, brasileiro, por exemplo, que fujam do maniqueísmo tipo Lula x Bolsonaro.

Ao contrário ao que aconselhou o rei da Espanha, não te cales nunca.

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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