O dilema e um processo inovador e diabólico

Por Flávio Dutra

Escrever uma crônica semanalmente pode ser um desafio para muitos escritores. À medida que o tempo passa, a pressão para criar algo novo e interessante toda a semana pode se tornar esmagadora. Além disso, muitas vezes é difícil decidir sobre um tema e encontrar inspiração suficiente para escrever uma crônica envolvente.

Por um lado, a crônica semanal oferece uma oportunidade de se expressar e compartilhar suas ideias e opiniões com o mundo. Ela pode ser uma ferramenta poderosa para conectar-se com o público e envolvê-los em um diálogo significativo. (...)

Por outro lado, escrever uma crônica semanalmente pode ser uma tarefa que consome muito tempo e pode resultar em estresse e ansiedade. É importante lembrar que a qualidade da crônica é mais importante do que a frequência com que é escrita. É melhor entregar uma crônica bem escrita e envolvente a cada duas semanas do que entregar uma crônica fraca ou sem sentido toda a semana.

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Este é parte do textinho sobre a angústia semanal que enfrento, só que não é de minha autoria. Quem produziu o texto, em poucos segundos, foi uma inovadora e diabólica tecnologia de inteligência artificial criada pela OpenAI, considerada líder mundial em inteligência artificial (IA) - o bilionário Elon Musk é um dos fundadores. Inovadora porque permite realizar diálogos inteligentes, criativos e com facilidade, através do ChatGPT. Você propõe um tema, uma questão, e a resposta é imediata, em inglês ou português. Diabólica porque tende a substituir os especialistas de várias áreas, especialmente quem é das Humanas, além de todos os mecanismos de buscas na Internet, ao oferecer um texto pronto, sem erros gramaticais. 

Dessa forma, o invento viria ao encontro do que o historiador israelense Yuval Noah Harari, autor de '21 Lições para o Século 21', está prevendo: que uma nova classe deve surgir até 2050, a dos inúteis, "uma vez que já temos algoritmos não-conscientes altamente inteligentes que podem fazer quase tudo melhor do que os humanos".  Não há muito o que fazer, a não ser garantir alguma forma de renda e ocupações para "esses supérfluos", explica o historiador.

No caso do ChatGPT trata-se de um processo irreversível, assim como o carro elétrico ou a impressora 3D. Não dá para ignorar ou cancelar, como se faz com os desafetos das redes sociais, mas tirar da ferramenta o que ela tem de melhor, que é o conhecimento quase infinito, embalado de forma bem didática. As novas gerações não imaginam como era fazer pesquisas escolares/acadêmicas em tempo nem tão antigo, pré-Google e similares.

O ChatGPT é um gigantesco passo adiante no ambiente digital, com impacto no nosso dia a dia. Não é preciso chegar à situação limite do escritor Theodore, do filme 'Ela' (2013), que adquire um novo sistema operacional para seu micro, chamado Samantha e acaba se apaixonando por ele, ou melhor por ela, afinal é o que justifica o título da produção. Claro que é uma alegoria sobre a relação contemporânea e incomum entre um humano e a tecnologia. Nem os geeks chegariam a tanto em termos de paixão tecnológica. 

Como é um processo em teste, o ChatGPT  ainda comete equívocos. O protótipo em uso pode fornecer respostas plausíveis, mas incorretas e sem sentido, admite a empresa e, assim, há o temor de que possa contribuir para a disseminação de desinformação. A propósito, perguntado sobre quem comete mais erros, a inteligência artificial ou a humana, o GPT saiu-se com uma resposta digna de humanos: "Ambas as inteligências, humana e artificial, podem cometer erros".

Entretanto, antes de demonizar o robô respondedor, faça como eu: acesse o chat.openai.com, cadastre-se e, com espírito lúdico, explore as potencialidades oferecidas pela tecnologia. Aproveite para perguntar sobre a sigla GPT.

Em tempo: achei muito simplório o texto apresentado para o pedido que fiz: Escreva sobre o dilema de produzir uma crônica semanal. 

Em tempo 2:  recomendo a editoria do Coletiva.net para verificar atentamente daqui pra frente os textos deste colunista, que eventualmente sem inspiração, pode usar o ChatGPT como laranja.

Autor
Flávio Dutra, porto-alegrense desde 1950, é formado em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), com especialização em Jornalismo Empresarial e Comunicação Digital. Em mais de 40 anos de carreira, atuou nos principais jornais e veículos eletrônicos do Rio Grande do Sul e em campanhas políticas. Coordenou coberturas jornalísticas nacionais e internacionais, especialmente na área esportiva, da qual participou por mais de 25 anos. Presidiu a Fundação Cultural Piratini (TVE e FM Cultura), foi secretário de Comunicação do Governo do Estado e da Prefeitura de Porto Alegre, superintendente de Comunicação e Cultura da Assembleia Legislativa do RS e assessor no Senado. Autor dos livros 'Crônicas da Mesa ao Lado', 'A Maldição de Eros e outras histórias', 'Quando eu Fiz 69' e 'Agora Já Posso Revelar', integrou a coletânea 'DezMiolados' e 'Todos Por Um' e foi coautor com Indaiá Dillenburg de 'Dueto - a dois é sempre melhor', de 'Confraria 1523 - uma história de parceria e bom humor' e de 'G.E.Tupi - sonhos de guri e outras histórias de Petrópolis'. E-mail para contato: [email protected]

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