O silêncio que grita

Por Fernando Puhlmann

´Os animais são meus amigos...e eu não como meus amigos.´

George Bernard Shaw

Ousar falar publicamente sobre veganismo é quase um convite a guerra. Mal a palavra aparece e já se formam as filas: uns com pedras (feitas de preconceitos idiotas) na mão, outros com piadas (infantis e muitas vezes homofóbicas) prontas, todos dispostos a defender "sua carne" como se defendessem a própria honra. O curioso é que praticamente ninguém se incomoda quando falamos de reciclagem, de economia de água ou de plantar árvores, pois isso os beneficia de forma direta. Mas basta mencionar que não é justo explorar animais que a raiva desperta.

Talvez porque, lá no fundo, todos saibam o quanto é absurda e covarde essa relação dos homens com os animais.

O humano não vegano olha para um porco, uma vaca, uma galinha - e não enxerga um ser vivo. Enxerga carne. E o que é isso, senão sadismo travestido de costume? É escolher, quando o animal ainda respira, qual pedaço arrancar, qual corte será mais macio, qual parte "nobre" se oferecerá ao fogo. Tudo para um instante de prazer. É transformar um ser em objeto, uma vida em mercadoria, um grito em silêncio.

E quando alguém ousa lembrar disso, as pessoas se ofendem. Se ofendem porque sabem que não há como justificar. Não há argumento cultural, religioso ou econômico que apague a brutalidade do gesto. Porque, se a vida fosse de fato sagrada (para eles), nenhuma porção dela seria retirada pelo simples prazer da gula.

Mas, quando nós, veganos, erguemos nossas bandeiras, não lutamos apenas contra a morte. Lutamos contra a exploração em todas as suas formas. A exploração que insemina à força uma vaca, arranca dela o leite que seria do bezerro e o separa mãe para vender como carne nobre, criando um dos mais perversos rituais de crueldade. A exploração que toma da galinha os ovos que nunca foram nossos, que tritura pintinhos vivos como se fossem descartáveis, que a esgota até o corpo não resistir mais. A exploração que mutila a abelha rainha para roubar da colmeia o mel que lhe pertence. Não se trata apenas de dor, nem apenas de matar: trata-se de reconhecer que cada vida tem um destino próprio - e que nenhum ser nasceu para ser reduzido a máquina de fornecimento.

A verdade é que precisamos evoluir. Precisamos entender, de uma vez por todas, que não somos donos do planeta, nem senhores das criaturas que nele habitam. Compartilhamos a Terra com elas - e isso deveria bastar para que as respeitássemos. Não temos o direito de enfiar agulhas em seus olhos em nome da ciência. De queimá-las com ácido para testarmos cosméticos. Não temos o direito de prender, engordar e matar em nome do paladar. Não temos o direito de chamar de churrasco aquilo que, antes, era ALGUÉM.

E talvez por isso a reação seja tão violenta: porque todo humano que mastiga carne carrega um silêncio que grita. O silêncio de saber que está errado. O silêncio de saber que a vida que virou alimento não lhe pertencia.

Falar sobre veganismo não é apontar o dedo. É segurar um espelho. E nem todo mundo suporta olhar para ele.

Autor
Sócio-cofundador da Cuentos y Circo, Puhlmann é um dos principais especialistas em YouTube do país, com um olhar focado em possibilidades de faturamento na plataforma e uma larga experiência em relacionamento com grandes marcas do mercado de entretenimento. Além de diretor de Novos Negócios da CyC, tem também no seu currículo vários canais no país, entre eles o do escritor Augusto Cury, do Gov Eduardo Leite, Natália Beauty e do Grêmio FBPA, sempre atuando como responsável pela estratégia de crescimento orgânico dos canais. Já realizou palestras sobre a nova Comunicação juntamente com diretores do YouTube Brasil como a abertura do 28º SET Universitário da Famecos-PUCRS, o YouPIX/SP e o Workshop YouTube Gaming Porto Alegre. Desde 2013, Puhlmann ministra cursos, seminários e oficinas sobre YouTube, tendo mentorado mais de 30 canais nos últimos anos.

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