Os feminicídios continuam em índices alarmantes

Por Márcia Martins

A campanha dos 21 dias de ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres (*), que no Brasil terminou no sábado, 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos, se encerrou com dados nada animadores. No Rio Grande do Sul, por exemplo, o feminicídio dispara em escalada alarmante. A cada semana, duas mulheres são vítimas deste crime. E somente em 2022, o crescimento é de 13,1% em relação ao ano anterior. No ano passado, mais de cinco mulheres ou meninas foram assassinadas por hora no mundo, segundo revela um estudo das Nações Unidas sobre violência de gênero. 

O levantamento revela que tais assassinatos aconteceram dentro de casa, o que confirma a teoria defendida pelos movimentos feministas há muito tempo de que a casa não é mais um lugar seguro. De todos os feminicídios no mundo (quando a morte ocorre pela condição de gênero) registrados em 2021, 56% foram cometidos pelas mãos de parceiros íntimos ou familiares. 

Em entrevista à ONU News, a pesquisadora do Instituto Igarapé (Rio de Janeiro), Renata Gianini, informou que de 23 das 27 unidades da federação houve um aumento na incidência de feminicídios em 12 estados do Brasil e redução em oito. Para diminuir esse tipo de crime, ela ressalta que é preciso reduzir a desigualdade de gênero. "É um trabalho de longo prazo, que exige investimento, muita educação, mas é necessário principalmente focar na prevenção", destaca Renata. Até porque, via de regra, o feminicídio é antecedido por outras violências (psicológica, moral, patrimonial), consideradas menos graves, porque não fatais, mas que podem resultar no feminicídio.

É urgente que se busque uma solução para que as mulheres e meninas possam se sentir seguras em casa, na rua, nas escolas, nas universidades, nos estádios de futebol. Que não tenham medo de serem julgadas e violentadas pela roupa que vestem. Que possam terminar um relacionamento sem temer que a outra parte não aceite o fim. Uma sociedade em que alguém tem medo de morrer por causa de sua identidade de gênero é totalmente adoecida. 

(*) Importante esclarecer que em todo o mundo (mais de 180 países), a campanha engloba 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência Contra as Mulheres e começa em 25 de novembro, data escolhida pela ONU como o Dia Internacional de Combate à Violência Contra as Mulheres em 1999. O dia foi escolhido para lembrar que na mesma data, em 1960, as irmãs Mirabal, três ativistas políticas, foram assassinadas a mando do ditador Rafael Trujillo, na República Dominicana. No Brasil, foi antecipada para 20 de novembro, Data Nacional da Consciência Negra, a fim de reforçar a dupla discriminação sofrida pela mulher negra, pela questão de gênero e raça.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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