Personagens infantis de 'Dark', violências e o que refletimos a partir disso

Por Marina Mentz

Partidarismo sim, eu não vou negar. Onde houver um minuto de possibilidade, eu digo que 'Dark' é uma das melhores séries já produzidas nestes tempos de streaming. Apesar do final não ter sido lá essas coisas - mas isso é papo pra outro texto - 'Dark' é 'Dark'.

Ela, que tem fama de ser uma série difícil de entender, é uma produção alemã de três temporadas que tiveram lançamento a partir de 2017. É uma mistura de drama, suspense e ficção científica e tem enredo que relaciona o desaparecimento de crianças, viagem no tempo e apocalipse. 

A partir daqui, este texto tem spoilers.

Muito já se falou em um milhão de análises internet afora que a história é desencadeada pelo desaparecimento de uma criança, mas o ensejo aqui é para refletir sobre como as infâncias aparecem neste roteiro, por meio de importantes personagens, sempre associadas a violências.

Por isso, é possível afirmar que sim, 'Dark' é uma série sobre infâncias e violências. Porque ela gira em torno do desaparecimento de crianças: primeiro o Mads Nielsen, depois o Erik Obendorf e o Yasin. E aí depois, já oficialmente na sequência dos acontecimentos, o Mikkel Nielsen.

Então, algumas impressões e reflexões sobre personagens infantis de Dark e as violências em relação a eles:

Mikkel Nielsen - O coitadinho que me dói só de pensar quando eu lembro daqueles primeiros episódios quando ele se perde na floresta. Porque era o Jonas que tinha que cuidar? Claro, depois depois a gente entende, mas eu me perguntei muito isso. E mais adiante a gente vê a invalidação da criança como sujeito, já que no decorrer de tudo ninguém acredita nele, ninguém ouve aquela criança. Ele cresce sem saber direito quem ele próprio é.

Elisabeth Doppler - menina com deficiência, ela não ouve e se comunica em linguagem de sinais. Também é ignorada e invisibilizada, já que ninguém explica nada do que está acontecendo pra ela.

Tronte Nielsen -  personagem com o qual vemos a violência na forma mais física, já que em certo ponto ele conta que viveu em um lar de acolhimento e mostra os braços machucados.

Hannah - na infância, precisa de uma ajuda, de um atendimento especializado. A menina mente compulsivamente e o olho nem treme.

Katharina Albers/Nielsen - também não teve uma infância fácil. Talvez carregue as marcas da própria mãe, que quando era adolescente passou por um aborto que a gente não sabe em que circustancias foram. A personagem Katharina sempre foi bastante negligenciada por aquela mãe e obviamente por um pai que nunca nem apareceu na série.

E claro, o coitadinho do HELGE DOPPLER, que talvez seja a criança mais sofrida, negligenciada e violentada desta série. Na lista, a agressão do Ulrich, e todo o assédio psicológico de Noah e sua turma, e sem esquecer que dentro de casa, antes de todos estes eventos, o menino já era bastante negligenciado.

Se na onda da nova produção dos autores (a série 1899, na Netflix, lançada em 2022), você resolver assistir Dark novamente, dê atenção para esses personagens citados aqui. Você já tinha reparado nisso?

Autor
Marina Mentz é jornalista, doutora e pesquisadora das infâncias brasileiras. Cofundadora da Bisque Laboratório Criativo, tem experiência na área de Comunicação, com passagens por agências e redações de jornal impresso, televisão, rádio e digital. Há 12 anos, pesquisa a presença das violências contra infâncias na mídia. E-mail para contato: [email protected]

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