Somos todos designers - 3 de 3

Chegamos ao terceiro e último artigo dessa pequena trilogia, iniciada nos dois artigos anteriores (aqui e aqui) e que insiste que somos todos designers. Pois bem, quem escreve é um engenheiro de formação que há mais de 20 anos trabalha com comunicação digital e que só recentemente, e não por acaso, resolveu estudar Design.

Falamos nos artigos anteriores de inovação organizacional e da importância histórica do Design no processo de transformação das empresas e, agora, precisamos falar do pensamento do Design propriamente dito e entender, por fim, porque seríamos todos nós: designers.

Para a maioria das pessoas, o termo Design evoca uma visão de estética e, eventualmente, uma visão de função, mas, acreditem, ele está muito além disso. Na academia se discute muito se o Design é uma ciência ou uma disciplina, mas eu acho que pouco importa. Para uma visão pragmática de mercado, o Design é um movimento que se aplica transversalmente à praticamente todas as atividades em nossas vidas e, especialmente, no mundo dos negócios, que têm, por óbvio, as empresas e organizações como suas unidades básicas.

O espaço de Design é o espaço do pensamento 'diferente', o pensamento capaz de encontrar lógica no caos e de resolver problemas complexos que tenham o ser humano e suas necessidades na sua centralidade. O pensamento do Design nos permite agir antes de termos as respostas exatas, nos permite trabalhar com problemas não totalmente determinados e fazer a reflexão sobre o problema durante a ação de solução. É capaz de trabalhar o pensamento divergente e o pensamento convergente num mesmo processo de trabalho.

Enfim, nunca o Design foi tão valorizado como uma força econômica, um recurso estratégico e jamais foi culturalmente tão influente quanto nos dias atuais. Praticamente, todos os tipos de organizações começaram a adotar o 'pensamento de Design' como um princípio orientador e começam a construir as suas competências internas sob os conceitos do Design.

Conforme falamos no último artigo, Tim Brown, CEO e Presidente da IDEO, disse que o Design evoluiu e amadureceu tanto, que já não pode mais ficar restrito apenas aos designers. Dessa forma, a partir da segunda década desse século, a missão dos designers passou a ser produzir Design para não designers. Ou seja, para você.

Isso é tangibilizado especialmente a partir dos diferentes workshops, frameworks e treinamentos que invadiram todas as empresas nos últimos anos. É uma visão bem instrumental, mas funciona. Workshops de Design thinking, Design sprint e Design de serviços são as representações mais comuns. Você provavelmente já fez alguns.

Conforme afirmou Herbert Simon, autor do livro Ciência do Artificial, toda prática profissional está relacionada, na sua centralidade, de alguma forma, com o processo de Design que esta representado por transformar situações existentes em situações desejadas. Logo, se você transforma situações existentes em situações desejadas, você é um designer.

Eu não disse que você é um bom designer, isso depende de que nível de atitude de Design que você tem e de que repertório e ferramental dispõe. Nos estudos de Kamil Michlweski, pesquisador americano, sobre a natureza dos designers em organizações, cinco aspectos são identificados como definidores da natureza do Design e compõem as atitudes do mesmo:

  1. Capacidade de aceitar a incerteza;
  2. Utilização da empatia;
  3. Sensorialidade;
  4. Paixão por dar vida às idéias;
  5. Criação de novos significados a partir da complexidade.

 

Considerando um repertório padrão, se você é ótimo em todos os cinco aspectos acima, você provavelmente é um baita designer. Se é muito ruim em todos os aspectos acima, você é um designer bem meia-boca. O resto da turma fica no meio do caminho, mas, por fim, e em qualquer condição, somos todos designers.

Eu sei que não deve ser fácil se descobrir designer do dia para a noite, mas também não é o fim do mundo. Afinal, quanto mais designers, maiores as transformações e melhor fica o mundo.

Valeu, colega.

Autor
Engenheiro, fundador, ex-CEO e ex-presidente do Conselho de Administração da AG2, fundador e ex-presidente da Associação Brasileira de Agências Digitais (AbradiRS) em duas gestões. Presidente do Conselho de Administração da Seekr de Blumenau e também sócio e membro do Advisory Board das seguintes empresas: Alright, MPQuatro, Delta, Zeeng, DEx01 e Minovelt. Foi eleito pela plataforma Proxxima um dos 10 profissionais mais inovadores do mercado brasileiro, em 2011. É professor do curso de Comunicação Digital da Unisinos e mestrando em Design Estratégico. Já trabalhou com estratégia digital para as principais marcas do mercado brasileiro incluindo Bradesco, Toyota, GM, Natura, Rio2016, Vale, Embraer, C&A, entre outras.

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