Tempos odiosos

Por José Antonio Vieira da Cunha

Primeiramente, viva a Democracia. Ela resistirá, apesar das estultices, das aberrações e das sandices e violências que são feitas em seu nome e em sua pretensa defesa. Não pode haver tolerância para com seus inimigos, e é isso que são os bandidos baderneiros que assaltaram a capital da República com os atos mais insanos, violentos e abjetos que já havíamos visto no país. 

Longe estão da qualificação de "homens de bem" aqueles bolsonaristas radicais que ousaram desafiar a democracia, suas instituições e ampla parcela da sociedade que a apoia. Cometeram crimes de toda ordem, de danos patrimoniais a atentados contra o estado democrático de direito, tentativas de homicídio e lesões corporais, tanto contra policiais como contra profissionais da imprensa. Promoveram a maior baderna que se viu no país nos últimos 200 anos, com destruição implacável e consciente do patrimônio público. Praticaram atos de terrorismo, com invasões e depredações, atingindo a paz pública, objetivando o golpe contra a democracia. Protagonizaram cenas odiosas, em ações devidamente planejadas, orquestradas, premeditadas. São terroristas, portanto.

Alguma dúvida de que os acampamentos em frente aos quarteis não tiveram a exata configuração de ovos de serpente, sendo chocados para se transformarem na nascente dos prejuízos à democracia e, por extensão, à sociedade brasileira? Juro que em um deles um vídeo exibia pessoas guinchando como porcos, sabe-se lá com qual objetivo. São incubadores de terroristas, como bem identificou o ministro da Justiça.

A mesma leniência de autoridades e militares para com estas chocadeiras do mal acabou se repetindo com a maior gravidade e funestas consequências neste domingo do ultraje, o 8 de janeiro de 2023. A intolerável e odiosa complacência levou à facilitação do crime, a comprovar na prática uma sentença de Nelson Rodrigues, segundo o qual em Brasília todos são inocentes e todos são cúmplices. O jeito mole como as autoridades do Distrito Federal e segmentos da Polícia Militar, das Forças Armadas e da Polícia Federal agiram é mais uma humilhação para eles e uma afronta à sociedade. Em muitos casos houve sim crimes de responsabilidade, a serem devidamente apontados e punidos. 

Até onde houve incompetência ou sabotagem dentro da inteligência federal? O serviço de inteligência do Exército, onde estava, incapaz que foi de apresentar um reles alerta? E a Polícia Federal, o que pensava mesmo sabendo-se via WhatsApp das mobilizações convocadas durante toda a semana? Há casos aí de uma verdadeira sublevação, que estava prevista e anunciada. Os "inocentes" foram cúmplices, agindo como burocratas, sentados em cadeiras estofadas e com pilhas de papel à frente, mesmo estando em um mundo virtual em que as informações voam à velocidade da luz.

E agora temos, além de Jair Messias Bolsonaro, outros dois nomes para a galeria da infâmia brasileira: Ibaneis Rocha e Anderson Torres, que de inocentes não têm nada.

Estamos diante de um acontecimento terrível, diante do qual sabemos tudo e nada. Mas temos uma certeza: não pode haver tolerância para com os inimigos da democracia. Entre eles estão os agentes do golpismo, os artífices da subversão militar e os empresários bandidos. Para chegar a estes, o caminho é fácil, como a história ensina: basta seguir o dinheiro, com a ajuda do Coaf e do Banco Central.

Jair Bolsonaro, o inspirador da desordem e do caos, provavelmente ficará plantado em solo norte-americano bem mais que os 30 dias anunciados quando se auto-exilou na mansão da Flórida. Na interpretação feliz de Carpinejar, buscou lá um álibi. Falta-lhe coragem para estar em solo brasileiro, esta é a verdade. Em relação a seus seguidores, torço para que lembrem-se de uma máxima de Odorico Paraguassu, o imortal personagem de Dias Gomes, que sabiamente pontificou: só idiotas não mudam de ideia. A história anda, e é essencial não perder este bonde.

Autor
José Antonio Vieira da Cunha atuou e dirigiu os principais veículos de Comunicação do Estado, da extinta Folha da Manhã à Coletiva Comunicação e à agência Moove. Entre eles estão a RBS TV, o Coojornal e sua Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre, da qual foi um dos fundadores e seu primeiro presidente, o Jornal do Povo, de Cachoeira do Sul, a Revista Amanhã e o Correio do Povo, onde foi editor e secretário de Redação. Ainda tem duas passagens importantes na área pública: foi secretário de Comunicação do governo do Estado (1987 a 1989) e presidente da TVE (1995 a 1999). Casado há 50 anos com Eliete Vieira da Cunha, é pai de Rodrigo e Bruno e tem quatro netos. E-mail para contato: [email protected]

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