Um ano atípico para uma futura eleição atípica

Por Elis Radmann

Estamos a um ano da eleição e vivemos um período que já pode ser chamado de atípico. Começamos 2025 com a antecipação das campanhas e com os principais jogadores em campo. O cenário do Rio Grande do Sul está desenhado: Gabriel Souza surge como o candidato da continuidade, apoiado pelo governador Eduardo Leite; pela esquerda, Edegar Pretto consolida o campo petista; pela direita, Luciano Zucco representa a força conservadora. E, fora da polarização tradicional, aparece Juliana Brizola, que ampliou sua visibilidade ao disputar a prefeitura de Porto Alegre e agora colhe os frutos dessa lembrança de marca em todo o Estado.

Mas se as campanhas se anteciparam, o debate público também se acelerou. O cenário político, tanto nacional quanto internacional, passou a dominar as conversas do eleitor, criando um ambiente de incerteza. De repente, temas que pareciam distantes, como o julgamento e a condenação do ex-presidente Bolsonaro, as discussões sobre anistia e dosimetria, e as novas tarifas impostas por Donald Trump sobre produtos brasileiros, invadiram a rotina do brasileiro. Esses assuntos não ficaram restritos aos noticiários: chegaram às mesas de bar, aos almoços de família e às conversas no trabalho.

Os indicadores do IPO - Instituto Pesquisas de Opinião mostram um dado relevante: a preocupação dos gaúchos com o futuro político e econômico nunca foi tão alta. Quase metade manifesta medo e desconfiança. O eleitor observa as notícias, compara cenários e tenta entender como os movimentos internacionais podem repercutir em sua vida prática, no emprego, no preço do alimento ou na estabilidade do país. De repente, a macroeconomia virou assunto cotidiano.

Esse ambiente de instabilidade tem mudado o comportamento do eleitor. Nas entrevistas híbridas (quantitativas e qualitativas), muitos relatam que sua intenção de voto "ainda não é definitiva", pois dependerá do que estiver acontecendo no país no próximo ano. Em outras palavras, a escolha de hoje é provisória, reflexo de um tempo incerto. Estamos diante do menor nível de cristalização do voto das últimas eleições, o que significa menos certeza e mais dúvida sobre quem será o melhor "jogador" para conduzir o jogo político e econômico.

As pesquisas divulgadas neste momento retratam apenas uma fotografia, um instante de um filme que ainda está em movimento. E essa fotografia pode mudar conforme o enredo se transforma. É um raciocínio clássico na área da pesquisa, mas que ganha um novo peso neste ciclo eleitoral: a volatilidade do cenário nacional e internacional está afetando diretamente a estabilidade emocional e cognitiva do eleitor.

O eleitor gaúcho, assim como o brasileiro, está sendo desafiado a pensar mais profundamente sobre o contexto e sobre o papel de quem escolherá para conduzir o próximo governo. Num ano em que tudo parece instável, a única certeza é que 2026 promete ser uma eleição diferente, em que cada movimento no tabuleiro global poderá influenciar o voto de cada cidadão.

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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