Você sabe quem eu sou?

Por Luan Pires

Tá vendo o sol entrando de cantinho bem aí do seu lado querendo chegar na planta que reluta em desistir de si no meio da sua sala? Sou eu. Lembra daquele pai com seu filho? Os dois passaram correndo por você ontem: o pequeno todo orgulhoso em seu uniforme de futebol cantando que ficou no pior time e mesmo assim venceu! O pai, todo suado do calor das 12h, explicando que se eles venceram é porque todos jogaram e se todos jogaram é porque era o time que tinha vencido, não somente ele. Era eu quem estava me manifestando nesse pequeno aprendizado.

Lembra daquela noite que você deitou na cama, o coração apertou e o medo pareceu um enxame de abelhas se alastrando pelos seus sentidos? Era eu, também. Assim como era eu aquela mensagem da sua mãe recebida antes de pegar no sono, que dizia apenas: tudo vai dar certo porque eu confio em você. Também era eu, naquele dia que você se esforçou tanto para aquele momento importante e as coisas não saíram como queria. Fui eu quem surgiu nos seus olhos em forma de água, molhando sua bochecha por alguns minutos antes de você erguer a cabeça e pensar: fiz o melhor que pude. Você realmente fez. Você realmente faz. E isso é o suficiente.

Sou eu aquela sensação ambígua de dor e amor interno de quando você descobre que ele está indo embora no melhor momento do seu reconhecimento profissional. Sou eu junto de você quando seu familiar aparece do nada com um carinho bem no dia que você está "azedo". Também sou eu quando as coisas estão bem e você de repente sente que não merece tudo aquilo. Essa força múltipla, de coisas acontecendo em diferentes tempos que despertam sentimentos tão distantes um do outro, sou eu. Me faço no azedo e no doce, no amargo que incomoda e no palatável que agrada. Sou o bom e o ruim ao mesmo tempo. Tudo sou eu.

Sou eu, meu querido, todo dia quem acorda com você e sabe da luta que é vencer a depressão, a ansiedade, o medo, o barulho, o tumulto, o silêncio, a solidão... Eu sei da vitória que está sendo levantar da cama. Eu estou enxergando sua luta diária e se você não escuta palmas saiba que é porque não tenho mãos, mas eu aplaudo a sua bravura de encarar o inesperado dilema do dia a dia com a simples força de vontade de continuar. 

Sou eu que estou presente nos pequenos momentos, nas dores e nos amores, na parada pra olhar o céu, no calor do abraço apertado, no exercício concluído, na lágrima transbordada, no frio da barriga, na conchinha da noite, no miado do seu gatinho se espreguiçando no seu colo, no cheiro do café recém passado... Sou eu nisso tudo aí. Celebrando a grande aventura que você cruza durante sua existência. Eu sou essa celebração dura e mágica. Caótica e linda. Sem sentido e com todo sentido. Eu sou a completude dos seus pequenos e grandes momentos. Eu também sou você. Você também faz parte de mim.

Você sabe quem eu sou.

Não preciso dizer. 

Autor
Luan Nascimento Pires é jornalista e pós-graduado em Comunicação Digital. Tem especialização em diversidade e inclusão, escrita criativa e antropologia digital, bem como em estratégia, estudos geracionais e comportamentos do consumidor. Trabalha com planejamento estratégico e pesquisa em Publicidade e Endomarketing, atuando com marcas como Unimed, Sicredi, Corsan, Coca-Cola, Auxiliadora Predial, Deezer, Feira do Livro, Museu do Festival de Cinema em Gramado, entre outras. Articulista e responsável pelo espaço de diversidade e inclusão na Coletiva.net, com projetos de grupos inclusivos em agências e ações afirmativas no mercado de Comunicação. E-mail para contato: [email protected]

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