Diversidade e Comunicação: Ariel Martins e a torcida pelos iguais

Publicitário é o articulista do dia em Coletiva.net e afirma estar em uma caminhada de autodescobrimento

Ariel Martins conversou com Luan Pires - Arquivo pessoal

Ariel Martins Rodrigues tem 31 anos e uma caminhada de autodescobrimento que ele promete não ter parado ainda. Há seis anos no mercado da Comunicação, trabalhando como publicitário, depois de ter atuado em outras funções, conta que se achou na área de Community Manager, trabalhando diretamente com o relacionamento entre marca e público nas redes sociais em uma agência de São Paulo, a VMLY&R. Ele começa o papo contando que hoje, ao olhar para a equipe em que trabalha, sente-se espelhado, "com pessoas com as mesmas histórias e vivências do que eu", mas que isso nem sempre foi assim.

Ter a vivência em diversidade ajuda no seu trabalho em criar relacionamento com as pessoas que interagem com as marcas?

Minha função se relaciona com pessoas que estão na ponta da decisão de compra ou querem resolver um problema. Desde a análise de sentimentos nas redes sociais, com relatórios semanais para o cliente, até a resposta do dia a dia. Ter consciência da pauta diversidade faz muita diferença para mim ao fazer o meu trabalho. Tanto na escolha de influenciadores como na forma de se comunicar. As pessoas buscam marcas mais humanas e procuram se identificar. Por exemplo, se você está vendendo uma coisa premium e essa pessoa não tem condições financeiras, como a marca, por meio do nosso olhar, pode ajudar? Indicar descontos disponíveis? Sugerir uma ação específica?  É um pequeno exemplo de que entender o outro ajuda a pensar como ajudá-lo mais.

Quando o assunto é Diversidade e Inclusão, houve uma situação que o fez despertar para isso?

Teve uma situação na faculdade que eu cheguei do intervalo para uma aula de Direitos Humanos e o professor veio e me perguntou se eu achava que existia desigualdade no nosso país. Eu respondi que sim e que eu era um exemplo por ser o único negro daquela sala. Depois, eu fiquei refletindo e entendi o meu papel em poder dar essa visão. 

Qual a importância da diversidade para as pessoas negras? 

É importante ter diversidade não só em quem estampa as campanhas, mas em quem produz. Aqui no sul, em todos os ambientes em que eu trabalhei, embora eu tenha sido mega bem recebido e tido ótimas experiências, vi pouca representatividade. Meu Trabalho de Conclusão (TCC) na faculdade foi analisar o impacto no cinema do filme Pantera Negra, que também abordou essa questão da representatividade. Eu imaginei na época que se eu estava sentindo um quentinho no coração com aquele filme, imagina as crianças negras vendo que poderiam ser heróis e heroínas. Por muito tempo, o negro foi representado no cinema como um ser selvagem e não-racional, então, o Pantera Negra trouxe um avanço e um impacto importante. Não só porque era um herói negro retinto, mas porque também abordou o afrofutrismo, a representatividade negra ancestral e a cultura, que apesar de ser um pais fictício retratado no filme, acaba "bebendo" de fontes reais. Isso é mágico pela escala do filme. 

O que você diria para os colaboradores brancos e não-brancos das empresas nesse contexto?

Eu vejo muitas pessoas brancas que estão tendo consciência, pelo menos no meu círculo. Mas, é sempre importante conhecer um pouco mais dos nossos antepassados e do movimento em si. Estudar mais um pouco, sabe. Para os colegas negros queria dizer que a gente importa. Por mais que queiram que a gente pense que não conseguimos agregar nada, saibam que agregamos sim. E queria lembrar que todos nós, de alguma maneira, somos inspiração para outros como a gente. Eu sempre quis inspirar: eu tenho muito orgulho em dizer que sou formado em Publicidade, tenho uma carreira bacana, que sou periférico desde que nasci, filho de uma mulher negra que sempre trabalhou em serviços gerais e hoje está aposentada, mas que sempre deu um jeito de me criar com tudo que eu precisava, principalmente amor e carinho. Não vou dizer que não é difícil, que não é desigual pra gente. Mas tem gente que está conseguindo e temos que torcer uns pelos outros e ajudar uns aos outros. Ver um irmão vencendo é sempre motivo de comemoração. Alcançar qualquer objetivo em um país preconceituoso como o nosso já é vitória. Até eu ficar velho, eu vou lutar por uma vida digna pra mim, para os meus familiares e amigos e pra quem passou e passa pelas mesmas dificuldades que eu.

O que é Diversidade e Inclusão para ti?

São termos que devem caminhar em vias únicas. A diversidade precisa acontecer tanto fora dos ambientes profissionais quanto dentro das empresas. E a inclusão é abraçar essa diversidade de pessoas que não tenham tanta oportunidade por ser quem elas são. 


Esta matéria faz parte de um conteúdo especial sobre diversidade e Comunicação, produzido por Luan Pires para Coletiva.net. Todas as semanas, o jornalista publica uma entrevista exclusiva com o articulista do dia. Para conferir o artigo de hoje, assinado por Ariel Martins, clique aqui.

Autor
Luan Nascimento Pires é jornalista e pós-graduado em Comunicação Digital. Tem especialização em diversidade e inclusão, escrita criativa e antropologia digital, bem como em estratégia, estudos geracionais e comportamentos do consumidor. Trabalha com planejamento estratégico e pesquisa em Publicidade e Endomarketing, atuando com marcas como Unimed, Sicredi, Corsan, Coca-Cola, Auxiliadora Predial, Deezer, Feira do Livro, Museu do Festival de Cinema em Gramado, entre outras. Articulista e responsável pelo espaço de diversidade e inclusão na Coletiva.net, com projetos de grupos inclusivos em agências e ações afirmativas no mercado de Comunicação. E-mail para contato: [email protected]

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