Diversidade e Comunicação: Francine Malessa e o impacto da diversidade como caminho

Jornalista é fundadora da plataforma social Diversidade Conecta e conversa com Luan Pires

Francine Malessa é fundadora da Diversidade Conecta - Arquivo pessoal

A jornalista Francine Malessa é mestra em Comunicação, especialista em Diversidade e fundadora da Diversidade Conecta, plataforma de impacto social para conectar grupos socialmente minorizados com as empresas. Com uma trajetória de atuação como especialista em Diversidade, sempre quis fazer algo que impactasse as outras pessoas. Agora, focada na plataforma Conecta, luta por gerar mais equidade do mercado de trabalho respondendo a todas as vozes da sua trajetória que, de alguma maneira, fizeram ela se sentir a parte, seja por ser mulher, seja por ser propositiva, seja por querer falar de coisas que os outros não falam.

Como começou sua jornada pela diversidade, equidade e inclusão?

Sempre tive essa questão de empoderar e trabalhar meu empoderamento. Sempre gostei de jogar futebol, por exemplo. Jogava com os meninos no campinho e tive isso latente na minha cabeça: em qualquer espaço que estiver, não vou pedir licença para estar. Minha trajetória sempre foi essa. Quando comecei a participar da Força Feminina, primeira torcida organizada feminina do Estado, do Inter, comecei a adentrar ao meio futebolístico com mais força e a questão de ser mulher em um ambiente masculino gerou situações que me fizeram refletir. Fui percebendo todas essas questões exatamente quando estava entrando na faculdade e conhecendo outras pesquisas e dados, o que me levou a abordar pautas feministas. Foi aí que pensei que tinha pouca coisa sobre o assunto na linha da Comunicação, ainda mais falando do feminismo intersecional, que é algo que sempre acreditei. Fui pro mestrado, na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), e, a partir daí, minha mente se abriu ainda mais para a possibilidades que todos esses temas têm e como podem impactar os outros.

Produzir conhecimento faz parte de mudar o mundo, na sua visão?

Sim, mas a pergunta é: o que eu faço com isso? Não vai mudar se só ficar aqui dentro da academia na minha visão. Sempre me perguntava aprendendo com os orientadores: o que essa pesquisa entrega para sociedade? Foi aí que comecei a pensar na ideia de ter uma consultoria. Veio a pandemia e pensei que eu queria estar trabalhando com algo que ajudasse mais diretamente, como a parte da diversidade. Então, foi mais um passo em relação a isso virar consultora. Participei de parcerias e workshops de inovação, conheci minha sócia no Diversidade Conecta e esse é o passo atual de impactar mais com diversidade e inclusão. Mas pensava: 'como vou escalar diversidade que é tão humana e subjetiva?' Por isso nossa plataforma acabou fazendo sentido: trabalhar para empresas que querem uma vaga só de talento diverso, que precisam de um programa...

O que você acha que lideranças e colaboradores devem fazer para ajudar a construir juntos essa cultura? Não tirando o peso maior das lideranças, claro...

Eu acho que as lideranças têm que estar genuinamente engajadas. Comprovado por estudos, quando os trabalhadores conseguem perceber engajamento das lideranças, aumenta a produtividade. Os líderes precisam entender que não é uma moda, um hype, ou só pelo motivo de todos estarem falando. Quando a gente fala de diversidade, a gente mexe com estruturas muito consolidadas das personalidades e culturas das pessoas. Então, temos que usar argumentos: sabia que se tu investir em diversidade aumenta a chance de alcançar novos mercados? Que diversidade racial aumenta o número de vendas? Tudo é resultado. Eu acho que é das lideranças entenderem que isso vai fazer bem para o seu negócio. Temos que falar de lado prático também. 

E o colaborador que enfrenta uma hierarquia de poder?

É bem mais complicado já que essas pessoas, com razão, têm receios de falar com as lideranças sobre isso. Nem todas as lideranças estão prontas para esse papo. Mas, pensar que não falar é sempre pior: vai adoecer essa pessoa, prejudicá-la na produtividade, gerar frustração... Eu acho que depende da cultura da empresa e se a cultura tem essa abertura. Uma solução que acho interessante é fazer com que outras pessoas que se identifiquem sigam juntas para falar com gestores sobre o que lhes incomoda. Assim, ninguém se expõe individualmente. Grupos de acolhimento são importantes para isso, também.

O que é diversidade e inclusão para você?

Eu acho que quando a gente diz que algo é diferente, criamos um padrão e não é esse o objetivo. Dependendo do contexto, a diversidade muda. Essa construção, para mim, é muito ampla. A gente está construindo e estamos desconstruindo para construir novamente. Acho que diversidade não é definida, ela é construída, moldada, redefinida, pensada, como um caminho de construção.


Esta matéria faz parte de um conteúdo especial sobre diversidade e Comunicação, produzido por Luan Pires para Coletiva.net. Todas as semanas, o jornalista publica uma entrevista exclusiva com o articulista do dia. Para conferir o artigo de hoje, assinado por Francine Malessa, clique aqui.

 

Autor
Luan Nascimento Pires é jornalista e pós-graduado em Comunicação Digital. Tem especialização em diversidade e inclusão, escrita criativa e antropologia digital, bem como em estratégia, estudos geracionais e comportamentos do consumidor. Trabalha com planejamento estratégico e pesquisa em Publicidade e Endomarketing, atuando com marcas como Unimed, Sicredi, Corsan, Coca-Cola, Auxiliadora Predial, Deezer, Feira do Livro, Museu do Festival de Cinema em Gramado, entre outras. Articulista e responsável pelo espaço de diversidade e inclusão na Coletiva.net, com projetos de grupos inclusivos em agências e ações afirmativas no mercado de Comunicação. E-mail para contato: [email protected]

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