Cinco perguntas para Jota Nilson

Repórter cinematográfico precisou se aposentar após problemas cardíacos

Jota Nilson prevê o lançamento de mais um livro no próximo ano - Crédito: Arquivo pessoal

1 - Quem é você, de onde vem e o que faz?

Sou um repórter cinematográfico aposentado por invalidez, desde que entrei para o mundo da engenharia civil e construí três pontes, todas de safena. Nasci no velho Quaraí, terra onde um rio miúdo recorta o chão e nos separa dos "Hermanos Uruguayos", em uma tarde chuvosa de outubro de 1962, e antes do meu terceiro aniversário, meus pais tomaram rumo em direção ao centro do Estado para fugir da fome e da falta de emprego. Assim, Santa Maria da Boca do Monte recebeu uma família humilde e foi terra próspera. 

Mas o meu "eu inquieto" nunca se acomodou com as dores que a realidade nos impunha e, depois de ter sobrevivido aos dias de vento norte da 15ª primavera de vida, saí assobiando o clássico 'Adeus Mariana' do velho Pedro Raymundo. Com alguns trocados no bolso, "me mandei" para a Capital, onde fiz de tudo: fui comerciário, bancário, publicitário, assessor parlamentar, empresário e, por fim, encontrei-me no Jornalismo, onde atuei por mais de 20 anos. Hoje estou escritor. 

2 - Por que escolheu atuar na reportagem cinematográfica?

Foi a reportagem cinematográfica que me encontrou. Era 6 de outubro de 1988 quando a marquise da Loja Arapuã caiu, provocando vítimas fatais e ferindo várias crianças. Fui um dos tantos anônimos que tentaram ajudar nos resgates, porém, o que mais me chamou a atenção, em meio àquela balbúrdia de gritos e pedidos de socorro, foi uma dupla que trabalhava na cobertura jornalística da tragédia. A repórter Cristina Ranzolin, jovem em início de carreira, e o repórter cinematográfico Luís Quilião, visivelmente emocionados, mostravam a magnitude do acontecido. Por instantes, vi-me no lugar do Luís e foi ali que senti que era aquilo que eu queria fazer. Eles me apresentaram a reportagem cinematográfica em seu lado mais tenso. Nunca tive a oportunidade de agradecer a eles pela lição de profissionalismo daquele dia. Aproveito esse espaço para dizer: Obrigado, Luís Quilião (in memoriam), obrigado, Cristina Ranzolin, vocês me inspiraram. 

Depois disso, comprei uma câmera filmadora e tive a sorte de conhecer o Marcos Castro, hoje na TV Assembleia, que me ensinou os segredos dos botões e os fundamentos básicos para a construção de uma matéria jornalística. Por seis anos, gravei desfiles no circuito Fashion pelo Brasil e pela América do Sul, tendo acumulado o marco de centenas de editoriais de moda e quase três mil desfiles gravados.

Então, foi a vez de Cesar Leopardo, repórter cinematográfico e empresário do segmento de vídeo, apresentar-me para a TV aberta. Fui contratado pela TV Pampa e, trabalhando ao lado de feras do Jornalismo como Vera Armando e Marcos Martinelli, aprendi lições que foram cruciais para a continuidade da minha carreira na TV Record RS. Lá, o que aprendi ensinei aos colegas auxiliares técnicos, que foram promovidos com a minha ajuda. Gerson Paz (Record TV) e Tiarles Martins (RBS TV) foram meus alunos, entre outros, o que me traz orgulho de os ter ensinado alguns segredos. 

Os anos passados nessa emissora me fizeram consolidar o amor pela profissão, tendo assinado matérias com colegas como Alexandre Mota, Aline Schneider, Andrei Rosseto, Jairo Bastos, Priscila Casagrande, Sacomory e entre outros. Como freelancer, atuei no SBT-RS, destacando a cobertura dos protestos de 2013. Era muita adrenalina e gás lacrimogêneo ao mesmo tempo. Há um recorde pessoal que gosto de contar: no período da Copa do Mundo de 2014, atuei em três emissoras de sinal aberto no mesmo dia. Como funcionário da Record RS, cumpri meu turno pela manhã e à tarde fui "freelar" no SBT com a jornalista Débora de Oliveira e o saudoso Ricardo Vidarte. Quando retornávamos, Luiz Rezende, da Band TV, chamou-me de urgência para gravar com Ico Thomaz no turno da noite. Assim, no dia seguinte, a assinatura do Jota Nilson estava nas três emissoras.

Na Band TV, fiz dupla com as jornalistas Flávia Polo, Gabriela Lerina e Regina Lima e também com Filipe Peixoto e Ticiano Kessler. Tive o privilégio de cobrir pautas internacionais, acompanhando o Alejandro Malo e a Karine Flores, além do Ico. Em uma dessas idas ao Uruguai, surgiram os primeiros sintomas da doença que me tirou do Jornalismo. Seis infartos do miocárdio em um período de cinco dias e só estou vivo graças a Fernanda Farias (hoje na TV Anhanguera em Goiás), que conduziu-me até o Hospital de Pronto Socorro (HPS) a tempo de ter um atendimento médico salvador. Na madrugada de 23 de janeiro de 2018, uma cirurgia cardíaca encerrava a minha carreira.

3 - Em março, você lançou quatro livros. Como está sendo essa nova fase como escritor?

Está sendo de muito aprendizado e desafios. O mundo literário é um mar bravio. A cada página que escrevo, sinto-me como um alquimista misturando palavras e sentimentos, transformando coisas simples em poesias e a realidade cotidiana em mundos imaginários, trazendo exemplo e incentivo a quem passa os olhos pelas minhas letras. Cada livro tem sido uma espécie de travessia por terras desconhecidas, onde personagens ganham vida e entrelaçam seus destinos, como em um bailado sincrônico orquestrado por divindades. Escrever tem sido um encontro com a minha essência e um reencontro com minhas paixões mais ternas, fazendo com que me sinta vivo e mais conectado com o mundo e comigo mesmo. 

4 - E qual a importância da Literatura para a sua vida?

A Literatura tem sido libertadora, pois me leva além das limitações das dificuldades cotidianas impostas por uma saúde frágil, e se torna uma espécie de portal, um esconderijo para as minhas emoções mais íntimas e uma janela para a compreensão do ser humano em toda a sua complexidade. Com a Literatura, pude expressar minhas angústias, minhas esperanças e até revisitar o meu passado. É uma forma de dar voz aos silêncios que carregava dentro de mim e vejo isso como um constante convite à reflexão e ao questionamento, pois meus personagens carregam em si uma série de significados que podem ser interpretados de maneiras diversas, enriquecendo minha visão de mundo. Posso dizer que é uma sensação indescritível ver minhas ideias ganharem forma e vida por meio das palavras, e, ao mesmo tempo, é uma satisfação compartilhar essas criações e poder tocar a alma de quem lê minhas obras.

5 - Quais são os seus planos para daqui a cinco anos?

Vou continuar escrevendo, mantendo o Portal da Literatura Jotiniana no ar, explorando novos temas e gêneros literários e buscando aprimorar minha escrita. Para 2024 está programado o livro 'O silêncio do girassol', com outra personagem feminina forte e com muita polêmica, que promete ser um relato surpreendente dos limites da maldade humana, além de alguns projetos culturais e literários colaborativos que estou participando. Até onde minha saúde permitir, a meta é seguir andando por estradas cobertas de letras à procura de inspiração e, quem sabe, daqui a cinco anos eu possa estar de volta aqui, contando sobre o 'Prêmio Jabuti' ou ostentando o Fardão dos Imortais da Academia Brasileira de Letras.

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