Revista Piauí: peculiaridades da publicação viram um dos temas da Nova Coonline
André Petry, diretor de Redação, refletiu sobre a origem e o financiamento do veículo

Uma revista que não tem dono ou acionista majoritário, nem depende essencialmente de um anunciante, e que por isso se apresenta como sendo "dona do próprio nariz". Assim é a Piauí, fundada em 2006. Desde 2021, é financiada quase integralmente com recursos de um fundo patrimonial de R$ 350 milhões, doado ao Instituto Artigo 220, organização sem fins lucrativos que detém as ações do veículo. O grupo virtual de jornalistas 'Nova Coonline' trouxe como convidado o diretor de Redação da Piauí, André Petry, que contou mais sobre a origem e o financiamento do veículo.
Provocado a falar sobre o sucesso da publicação, André explicou que a Piauí atendia a uma demanda diferente da atual, pois havia um ambiente político e profissional diferente. Ao ser criada, em 2006, a mesma tinha um papel mais bem-humorado, com a publicação de contos, ensaios e anedotas, além de Jornalismo. "Com o tempo, a situação foi se alternando, e nos últimos anos a revista mudou, porque o ambiente profissional também mudou", falou o jornalista.
Modelos de negócios
André também lembrou que as redações estão cada vez se precarizando mais. A crise do modelo de negócio da imprensa reduz o tamanho das equipes jornalísticas, que passam a ser integradas por pessoas muito mais jovens e menos experientes, enquanto a publicidade cai e as assinaturas desabam. "Com isso, a revista Piauí ocupa um espaço que não está em disputa, pois não tem ninguém fazendo reportagens longas, ninguém fazendo jornalismo narrativo..."
Neste período em que está na direção, ele considera que a publicação é hoje uma revista de Jornalismo imprescindível, "não porque seja melhor que qualquer outra, mas por fazer um trabalho cada vez mais diferente e cada vez mais raro no cenário da imprensa brasileira". O jornalista enxerga um modelo peculiar de financiamento que está ganhando força, tanto no Brasil quanto no mundo, que possibilita que se produza uma revista como esta. O fundo patrimonial, que em 2021 era de R$ 350 milhões, é tido como suficiente para cobrir o custo anual da Piauí - cerca de R$ 16 milhões por ano na época - e rentável o suficiente para sustentar a revista permanentemente dentro do tamanho que tem.
Para ele, se quiser fazer qualquer investimento adicional, a publicação precisa gerar suas próprias receitas novas. Por isso, segundo André, "tem a perenidade assegurada". Atualmente, o veículo entra no terceiro ano com esse tipo de financiamento, e em todo esse período, acabou com as contas equilibradas. O fundo banca algo em torno de R$ 12 milhões anuais, enquanto assinaturas, venda avulsa e anúncios garantem uma receita anual de cerca de R$ 6 milhões.
Versão impressa
André foi enfático ao afirmar que não está no horizonte acabar com a edição impressa: "não vamos discutir isso. A versão em papel é diferente da digital; ela é colecionada e possui outro significado para os nossos leitores, essencial para o jornalismo que praticamos. Sem ela, a Piauí se desorienta."
O profissional reconheceu a existência de uma certa particularidade da redação em evitar fazer pesquisas sobre o perfil de seu público. Mas, por meio dos assinantes digitais, identificou que os leitores estão na faixa etária entre 20 e 40 anos, "o que é um dado espetacular, pois todo veículo quer ter seu leitorado nesta faixa. Não é um público abastado, com renda elevada, mas é alto em interesse intelectual."
O jornalista fez questão de enfatizar que a Piauí não tem um dono; sendo bancada pelo Instituto Artigo 220 e tendo um conselho editorial composto por sete membros, presidido pelo documentarista João Moreira Salles. Ou seja, a cada três meses, o diretor de Redação se reúne com esse conselho. Já na produção da revista, a redação, formada por 25 profissionais distribuídos entre Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, tem total autonomia para decidir sobre a pauta e seus rumos. Os integrantes do conselho só tomam conhecimento do que se faz ao receber a revista impressa no início de cada mês. Com uma tiragem de 50 mil exemplares por mês, a revista preserva seu espaço no cotidiano dos leitores.
No encontro com a Nova Coonline, o diretor de Redação, André Petry, comentou mais sobre a crise atual da imprensa e do Jornalismo impresso, em especial, do posicionamento da revista nas redes sociais. Também foram abordados assuntos relacionados à política, agora impactada pela eleição de Donald Trump nos Estados Unidos. O grupo é formado por jornalistas veteranos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Brasília. Nessa edição, estiveram presentes: Elaine Lerner, Eugênio Bortolon, Ivanir Bortot, Jorge Polydoro, José Antonio Vieira da Cunha, Lourenço Cazarré, Luiz Lanzetta, Márcio Pinheiro e Ricardo Chaves.
Confira o papo completo: