Aletéia Selonk: Uma eterna aprendiz

Com uma carreira consolidada no mercado audiovisual, Aletéia Selonk cruzou o Sul do País em busca de desafios


Por Gabriela Boesel
De estatura mediana, cabelos curtos e um sorriso, Aletéia Selonk revela sua simpatia logo no início da conversa. O ar de seriedade de uma profissional que é reconhecida no mercado audiovisual dá espaço a uma mulher animada e cheia de histórias para contar. Nascida em Londrina, no Paraná, e formada pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), em 1996, a jornalista se mudou de mala e cuia para Porto Alegre para traçar o caminho que sempre sonhou. "Adorei a faculdade de Jornalismo, mas faltava aquela coisa das imagens, do audiovisual, que era o que estava na minha cabeça", lembra.
Escolher a capital gaúcha não foi difícil. O mercado emergente no Sul e um curso de pós-graduação na PUCRS foram os fatores que mais pesaram na decisão. E, unindo o útil ao agradável, Porto Alegre era a cidade ideal para o trabalho do marido, Alcides Paes, que atuava como veterinário de agricultura em cidades do interior do Paraná, "e Porto Alegre não era uma grande capital como São Paulo", explica.
Criada para ter uma formação autônoma, como ela mesma diz, a filha mais nova de Ambrósio, já falecido, e da aposentada Édila não teve dificuldades em se adaptar ao novo lar, tanto que, hoje, não pensa em deixar o Estado que a acolheu. Com mestrado em Produção Audiovisual pela PUCRS e doutorado pela mesma instituição, a profissional garante estar realizada com a profissão, pois conseguiu traçar o caminho preestabelecido na adolescência, quando descobriu que queria desbravar o universo audiovisual. E o fez.
Abrindo caminhos
As várias possibilidades que o cinema oferecia foi o que intrigou Aletéia na adolescência. Ao perceber que enxergava um filme como algo mais do que um mero entretenimento, entendeu que era com isso que queria trabalhar. "Eu ficava pensando naquele filme por uma semana, enxergava além daquela história, porque o cinema é uma coisa especial", explica. Sem referências na área, o que considera o maior obstáculo enfrentado no início da carreira, a jornalista encarou o desafio mesmo sem saber exatamente onde estava se metendo. "Naquela época, não era tão comum uma mulher trabalhar nessa área, mesmo na faculdade de Jornalismo, ou em produtoras. Era um ambiente muito machista", conta, orgulhosa de ter conquistado seu espaço.
Hoje, a professora do curso de Cinema da Faculdade de Comunicação Social da PUCRS e coordenadora do Centro Tecnológico Audiovisual do Rio Grande do Sul lembra sua trajetória com orgulho, inclusive da primeira experiência quando, ainda na faculdade, atuou como produtora de um programa ao vivo diário na Rede CNT, em Londrina. "Ali, tive a primeira oportunidade de atuar na prática com audiovisual, que eu tanto queria trabalhar e eu nem conseguia posicionar como um campo, porque ainda era um audiovisual a la jornalismo", salienta.
A união entre atuar como profissional de mercado e como docente completa a realização de Aletéia, que costuma dizer que tem "desvio de caráter", por não conseguir trabalhar apenas com uma das atividades. "Adoro fazer parte do mercado, mas parece que só isso não me sustenta. Preciso de mais alguma coisa, e o espaço da universidade supre isso. É um ambiente que me permite ultrapassar os limites que o mercado impõe", pontua.
Já há 11 anos como professora na mesma instituição de ensino na qual se especializou, diz que dar aula para os jovens de 18 é uma realização que nunca pensou que teria, mesmo quando seu orientador de mestrado insistia no assunto. "Ele dizia: ?Aletéia, você é professora e não sabe?. Então, aceitei e arranjei mais um problema na minha vida: adorar dar aula", diz, aos risos.
Conteúdo é o que importa
Foi em uma extinta distribuidora de filmes internacionais, a NN International, que a jornalista deu início à trajetória na capital gaúcha, em 1997. A experiência a fez perceber que o que queria, de fato, era focar em produção de conteúdo. Com esse objetivo, em 2001, junto com Beto Rodrigues, abriu a produtora audiovisual Panda Filmes, sua primeira investida no mundo empreendedor. Em 2006, desfez a sociedade e partiu para a segunda empresa, a Okna, que comanda até hoje.
Com tanta bagagem, a realização vem como uma recompensa, pois conseguiu se destacar tanto no mercado quanto na academia, motivação que a faz trabalhar com entusiasmo e paixão. "É uma energia máxima e esse grau de satisfação é porque eu estou trabalhando com uma coisa que eu gosto 100%, e que está na minha cabeça 100%", comemora, e acrescenta que "a satisfação é de ver que aquela vontade de adolescente deu a possibilidade de atravessar o segmento com atuação múltipla".
Desistir é uma palavra que não existe na vida de Aletéia. Para ela, a Comunicação mostrou que, desde o momento em que decidiu cursar a faculdade, estaria abraçando uma área, não apenas uma profissão. "Mesmo estudando Jornalismo, eu não me limito, eu me envolvo com a Comunicação como um todo", acredita, ao mesmo tempo em que diz que os desafios que aparecem pelo caminho são mais um estímulo para abraçar a carreira. "Eu gosto de fazer o que faço e de aprender. Isso faz com que todo dia as coisas não sejam só mais uma tarefa. E as dificuldades que surgem eu aprendo com elas. É uma reinvenção", fala, com convicção.
Para o futuro, não planeja parar, muito menos se aposentar. Pelo contrário. Espera ver uma estruturação dos arranjos produtivos locais no que diz respeito ao audiovisual no Rio Grande do Sul, e se vê fazendo o que faz hoje, porém em outras instâncias e experiências. "Quais serão eu não sei, mas se for assim como hoje, estará bom", avalia.
Criatividade sem limite
Aletéia se diverte quando as pessoas dizem que "é impossível acompanhá-la", afinal, suas ideias surgem nos momentos mais inusitados. "De vez em quando, eu acordo de madrugada com ideias, levanto e vou escrever, mas, para mim, isso não é ser viciada em trabalho, isso faz parte. É a expressão do meu trabalho", esclarece, e, em sua defesa, diz ainda que consegue separar as vidas pessoal e profissional. "Tudo é muito integrado, mas eu consigo me organizar. Trabalho normalmente e tenho minha família". Afinal, a mãe de Maria Clara, de quatro anos, e de João Francisco, de oito, dedica os momentos de folga para brincar com os pequenos e conta que isso não é nenhuma obrigação. "Eu quero participar da vida deles, ir na escolinha, fazer as tarefas, brincar. Eu escolhi ser mãe e ter essa rotina".
Casada desde os 22 anos, a jornalista lembra que essa atitude representou uma ruptura no plano familiar, pois seus pais a formaram para investir na carreira. "Na minha família, era "ou você se dá bem no trabalho, ou você casa"", recorda, com um orgulho de quem fez a escolha certa. "Fiz as duas coisas juntas e consigo provar que dá certo", pontua.
Com uma infância rodeada de arte, lembra que as aulas de piano, violão e dança eram uma diversão, e acredita que essa educação artística ajudou na escolha da profissão. Envolvida com esse tipo de expressão, ler também sempre foi um prazer, nunca uma obrigação. Atualmente, confessa que lê vários títulos ao mesmo tempo, e de diferentes estilos. Vai desde obras técnicas, até outros de cunho teórico, sem deixar de lado os de "literatura mais light", como gosta de classificar.
Planejar viagens com a família é um de seus hobbies, assim como organizar uma programação cultural com os amigos. "Como trabalho com cinema, as pessoas me têm como a responsável por programar essas atividades", diz, aos risos. Aliás, a Sétima Arte é um tema complicado quando se tem que escolher um filme, gênero ou diretor favorito. Por isso, Aletéia simplifica: não escolhe. Apenas se limita a dizer que prefere histórias mínimas, reflexivas, introspectivas e dramas. Superproduções não são seu forte, nem o gênero Aventura. Gosta também de conteúdo infanto-juvenil, o que atribui ao fato de ser mãe. "Temos que nos preocupar com o que o jovem vê e alimenta a cabeça, e com o que o universo lúdico estimula para esta geração."
A criatividade aparece também na cozinha, onde gosta de inventar e misturar, seguindo um estilo "meio alquimista". Diz que lê uma receita, mas não fica presa aos ingredientes. "Se tenho em casa, uso, mas se não tem, eu mudo, uso outro, não me limito ao que está escrito", revela, e aproveita para deixar claro que só não gosta de cozinhar por obrigação, nem quando está com fome.
Sempre em movimento
Otimista e mandona por natureza, essas são as duas características que se sobressaem na personalidade de Aletéia, que acredita que um mesmo atributo pode ser bom ou ruim, depende apenas do ponto de vista e do grau. E se defende: "na minha atuação, eu tenho que liderar e ter pulso firme para as coisas andarem".
E ela é mesmo assim. Faz os projetos tomarem forma e as portas se abrirem. Não é à toa que chegou na posição que ocupa, afinal, superou obstáculos e sempre optou por enxergar seu copo meio cheio. Porque Aletéia Selonk é uma pessoa que gosta de desafios, de gente, de estar sempre em movimento, em busca de fazer algo para si e para todo o mundo.
 

Comentários