Cláudia Laitano: Cultura como norte

A jornalista trilhou um caminho pedregoso até os livros, mas que mudou o enredo de sua vida

Cláudia Laitano é sinônimo de bom humor, personalidade e inteligência. Quem a conhece ou lê seus textos logo percebe tais características nas entrelinhas de suas crônicas semanais publicadas no jornal Zero Hora. A pequena de olhos azuis e cabelos escuros é uma mulher simples, alegre, disposta, determinada e apaixonada pela vida. A cultura é a sua religião: "Acho que os livros nos tornam pessoas melhores, pois a leitura te lembra como o mundo é grande e como a ignorância é maior ainda! O hábito de ler te torna uma pessoa mais tolerante e humilde. Acho que tolerância, humildade e canja de galinha nunca fizeram mal a ninguém!".

A jornalista, que nasceu em Porto Alegre no dia 13 de maio de 1966, tem especialização em Economia da Cultura e há oito anos é editora da área cultural do jornal Zero Hora. Cláudia orgulha-se de ter descoberto o prazer pela leitura e a paixão pelos livros sozinha. A família dela não possuía este hábito, mas preocupava-se em abastecer as estantes da sala com as principais enciclopédias dos anos 70, que serviam como material de pesquisa para os trabalhos escolares dos filhos. O caminho percorrido até os livros foi pedregoso, mas, segundo ela, mudou o enredo de sua vida. As obras de Monteiro Lobato foram as primeiras com que teve contato, na pequena biblioteca da escola onde estudava, em Novo Hamburgo. "Me orgulho muito de ter descoberto por mim mesma os livros, pois tudo o que descobrimos sozinha tendemos a valorizar mais."

O gosto por escrever apareceu cedo na vida da cronista. Na escola, sempre foi estimulada a escrever. Era uma aluna dedicada e que lia suas redações na frente da classe. Na adolescência, dedicou-se a redigir poemas e músicas por influência de amigos que eram músicos. Mas, até então, nunca havia pensado na possibilidade de tornar o hobby sua profissão. Cláudia queria ser psicóloga, chegou a cursar dois anos, mas trancou a faculdade para morar em São Francisco, nos EUA. Lá, trabalhou como babá e juntou dinheiro para viajar pela Europa.

Foi durante sua viagem para o Exterior que Cláudia percebeu que, apesar de gostar de psicologia, não conseguia se enxergar atuando na área. "No meu primeiro dia de aula no curso de Psicologia, estava em estado de êxtase absoluto, pois parecia que tinha casado com o príncipe encantado da minha vida. Logo, comecei a sentir falta de escrever e, em 1988, decidi estudar Jornalismo."

Editora nata

Em 1985, antes de viajar para o Exterior, começou a trabalhar como revisora no jornal Zero Hora. Caçula e única mulher entre três irmãos, conta que teve uma infância normal em uma família de classe média. A cronista afirma que não entrou para o mercado de trabalho por necessidade, mas, sim, pela vontade que tinha de tornar-se uma pessoa independente. Percebeu isso aos 15 anos, quando juntou dinheiro para comprar selos para sua coleção e foi repreendida por sua mãe. "E independência é algo que mantenho até hoje, pois jamais deixaria de trabalhar para ser sustentada por um marido. Tenho a necessidade de ter meu dinheiro e de não precisar dar satisfação de como eu o gasto. Essa característica sempre foi muito forte desde cedo."

Três anos mais tarde, já de volta a Porto Alegre, reassumiu o cargo e, depois da informatização da redação, atuou como indexadora ? fazia um resumo das matérias publicadas e as disponibilizava em um banco de dados - durante quatro anos. A partir de então, sua carreira no Grupo RBS entrou em ascensão, pois logo tornou-se editora do caderno de TV e, em 1996, passou a editar o Segundo Caderno. No ano 2000, assumiu o comando da editoria de cultura do jornal Zero Hora, onde, desde 2004, publica suas crônicas semanais com dicas de filmes e livros, entre outros diversos assuntos.

Em 1993 publicou seu primeiro livro, "Arca de Blau", volume de memórias do jornalista Carlos Reverbel. O primeiro contato com Reverbel foi através de seu trabalho de conclusão de curso, pois ele foi o tema de sua monografia. A jornalista também acabou de lançar o livro "Agora Eu Era", que reúne 61 crônicas publicadas em ZH. Cláudia sempre gostou de escrever, mas diz que não nasceu para ser repórter: "Sou muito mais editora do que repórter. Não tenho um ímpeto irrefreável de falar com pessoas desconhecidas e fazê-las falar. Até faço, mas só quando é preciso. Só sei que isso é algo que não faria todo dia. Gosto muito mais de editar", conta.

Livros, eterna companhia

Cláudia foi casada durante nove anos com o também jornalista Roger Lerina e, com ele, tem uma filha, Pilar, 9 anos. "Pelo fato de nós, os pais dela, sermos jornalistas, a Pilar tem uma coisa de marcar que aquele mundo dos livros não é o mundo dela. E a forma que ela encontrou de fazer isso foi sendo uma aluna brilhante em matemática. Ela adora números e cálculos!"

Há um ano e meio trocou alianças com o físico carioca Daniel. O casal se conheceu durante um encontro de literatura, em São Paulo. Depois de dois anos de namoro à distância, Daniel mudou-se para a Capital gaúcha, onde ministra aulas no Centro Universitário Metodista, do IPA. "Nos conhecemos antes do caos aéreo, por isso conseguíamos nos ver de três em três semanas. Se fosse agora, não sei não!"

Em seus dias de folga, o hobby preferido continua sendo a leitura. Basta entrar em seu apartamento ? uma cobertura aconchegante no bairro Mont Serrat ? para perceber. As paredes da sala de estar são cobertas por grandes estantes repletas de livros. Entre os autores preferidos estão o filósofo suíço Alan de Botton e o pensador francês Luc Ferry. Como costuma trabalhar aos finais de semana, estar em casa com tempo para ler é, realmente, um privilégio para ela. Ir ao cinema é outro programa que Cláudia gosta de fazer. Documentários, filmes brasileiros e de ficção são os preferidos.

A jornalista afirma que se arrisca na cozinha, mas só se for para preparar pratos como risotos e massas para pouca gente. "Estar em casa com meu marido e minha filha é algo que gosto muito de fazer". Quando o assunto é música, gosta de ouvir pop, música brasileira e bandas como Radiohead, REM, U2 e Joni Mitchell. "Sou muito eclética para música, mas como o Daniel é carioca, ultimamente tenho ouvido muito samba e chorinho".

Sempre disposta a ouvir e aprender

Aos 42 anos de idade, movida por paixões e curiosidades, Cláudia tem opinião definida sobre os mais diversos temas e relata que já escreveu a favor de temas polêmicos, como aborto, união de pessoas do mesmo sexo e pesquisas com células-tronco. A jornalista acredita que seu maior defeito é ser teimosa. "Porque, às vezes, demoro a reconhecer que o caminho por onde estava indo era mais complicado." Mas a teimosia, em certos momentos, é retratada como uma qualidade: a determinação.

Quando se trata do universo da cultura, da literatura, da história e da filosofia, ela afirma que tem muita disposição para ouvir e aprender. "São conhecimentos que, de certa forma, te aperfeiçoam como pessoa. Se tenho uma fé, uma convicção na minha vida, é a de que o mundo da cultura é a estrada para nos tornarmos pessoas melhores. Pessoas que não lêem e que não se emocionam com músicas e com filmes tendem a ser moral, intelectual e espiritualmente esclerosadas. Sou uma pessoa não-religiosa, não-mística. Futebol e religião são duas coisas que me incomodam profundamente. Fanatismo, de uma forma geral, me incomoda. Se eu tivesse um altar, ele seria destinado à cultura!"

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