Davi Neves: discreto, mas nem tanto

Jornalista, sócio e CEO da agência digital DZ Estúdio, pulsa e leva a vida em uma batida agitada

Quem sonha em obter sucesso profissional, por vezes, nem sabe que se necessita de certa disposição e boa administração de uma rotina agitada. Mas existem pessoas que tiram isso de letra, ou nem sentem dificuldades. Esse é o caso de Davi Neves que, além de cuidar de negócios, conduz funcionários, empresa, projetos, família e arruma tempo para hobbies. Apesar disso, considera-se discreto, porém, de fato, o homem não para.

É como se fosse um baterista que executa o seu instrumento com movimentos friamente calculados: é aquele músico que fica no fundo do palco, mas quando pega as baquetas, gerencia os pés no bumbo, passa pelos tons e finaliza o solo musical nos pratos, enquanto a plateia vibra. E isso não é apenas uma metáfora, ele realmente toca esse equipamento de percussão. Pulsa e leva a vida nessa batida, afinal de contas, o jornalista de formação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) é um dos sócios e CEO da agência digital DZ Estúdio.

Assim como diversos brasileiros que carregam misturas de nomes: entre Davi e Neves, no meio, existe o sobrenome Giglio, oriundo de sua avó, imigrante italiana, enquanto Neves da Silva veio do parentesco paterno. Além disso, o profissional tem uma origem curiosa: os pais se conheceram na cidade de São Paulo. A mãe é nascida na terra paulista e o pai, porto-alegrense, mudou-se para a capital a fim de estudar.

Entre namoro e casamento, o casal concebeu três filhos homens, sendo Davi o caçula do trio. Os dois mais velhos nasceram na "Terra da Garoa", enquanto o jornalista, em Porto Alegre, pois os pais decidiram morar na capital gaúcha para criar os meninos. "Meu pai e eu somos os únicos gaúchos da família, o resto é tudo paulista", conta.

Lembranças na casa da avó

De uma infância tranquila, Davi nasceu e foi criado no Menino Deus, localizado na região Centro-Sul de Porto Alegre, considerado um bairro nobre da cidade e um dos mais antigos da Capital. No local, por volta do final dos anos 1980, ele viveu uma infância repleta de brincadeiras e travessuras. Na época, tinha-se uma geração de crianças que, naquele lugar, ainda brincava na rua, como: jogar futebol e correr nas praças ao redor.

Quando jovens, a turma de amigos "causava" bastante na redondeza e no edifício em que moravam. "Lembro de a gente se esconder para tocar ovos em um ônibus escolar de alguns amigos", disse, aos risos. Apesar dessas lembranças, uma das recordações mais marcantes é da casa da avó. Uma residência grande, situada no bairro Moinhos de Vento, em Porto Alegre. O lugar abrigava, nos finais de semana, a família inteira que se encontrava para contar histórias e cantar músicas.

Um pouco antes do falecimento da matriarca, a casa, que era a referência, foi vendida para uma construtora que, por sua vez, montou um restaurante. O local carrega as boas energias daqueles encontros. Por conta disso, os parentes e amigos ainda frequentam o espaço para prestigiar a boa comida e, de alguma maneira, reviver as lembranças do passado. 

Comunicação e Empreendedorismo

A família de Davi tem na veia a Comunicação. Os irmãos trabalham no segmento artístico e visual: enquanto um atua no setor de Ilustração, o outro, no Audiovisual. Porém, a escolha pelo Jornalismo surgiu pela experiência do pai, que já trabalhou na profissão. Ainda em São Paulo, ele escrevia para alguns jornais na região; no entanto, no período da Ditadura Militar, os soldados, conforme conta Davi, "exigiam que esses profissionais só pudessem exercer se tivessem o diploma". Diante desse fato, ele não atuou mais e passou para outra atividade, como tradutor de livros da língua francesa, o que desempenha ainda nos dias atuais.

Davi considera que não teve uma trajetória longa na Comunicação. Apesar disso, aprendeu desde muito cedo a mexer em programas de edição de imagens. "Tinham algumas freelas de Artes Visuais que meu irmão me passava. Ali eu aprendi muita coisa." O profissional realizou cursos para se aperfeiçoar ainda mais nos designers e ingressar no universo da Publicidade. Na faculdade, conheceu o futuro sócio, o também jornalista Zé Pedro Paz. A dupla trabalhou junta em uma agência, quando perceberam que poderiam abrir o seu negócio e atender aos seus próprios clientes. 

Surgiu, então, em 2005, a agência digital DZ Estúdio. A letra D, da inicial de Davi; a Z, de Zé Pedro; e Estúdio, palavra oriunda da criatividade. O negócio começou a crescer e logo receberam propostas de grandes marcas do mercado para realizarem parcerias. "A minha relação com o Zé é muito boa, próxima e de muita amizade. Fazemos uma dupla que dá certo desde a faculdade e, assim, a gente cresce juntos", exalta.

Paizão e marido

Camila, esposa de Davi, entrou em sua vida ainda nos tempos da universidade. Um grande grupo de amigos se encontrava para fazer festas e "reunir a galera, beber e dançar." Os encontros aconteciam no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, e se estendiam para o Largo da Epatur, local próximo. E foi ali que ocorreram as primeiras trocas de olhares dos jovens. Não demorou muito para virarem um casal do "rolê" e já iniciaram um namoro. Logo após, em 2007, passaram a morar juntos e constituir uma família.

O primeiro fruto desse casamento foi o filho Martin, hoje com quatro anos. O garoto, muito inteligente, aventura-se nos brinquedos de montar. Além disso, gosta de assistir programas de televisão que tratam do mesmo tema. O casal tem mais um nenê na casa, o Francisco, de quase dois aninhos. "Está sendo bacana reviver essa fase, pois ele estava mais ligado à mãe, até uma certa idade, agora já está desapegando mais", relata.

A rotina do casal é extremamente agitada. Camila, que é professora da Ufrgs, divide-se com o marido para atender os pequenos. O casal acorda mais cedo para realizar os preparativos do dia. Quando os meninos despertam, é o momento do café da manhã e de arrumá-los para serem levados à escola. Após tudo isso, aí sim está na hora de trabalhar. Enquanto a mãe se desloca para dar aula, o pai se ajeita para tocar a empresa e, normalmente, entra em alguma reunião. No final do dia, revezam-se para buscar as crianças. "Aí, quando chegam, começa tudo novamente", conta, aos risos. 

Músico e Produtor Artístico

Quando adolescente, surgiu a primeira paixão: a música. Isso faz parte da vida de Davi Neves até os dias atuais. A casa da avó foi referência para muitas coisas, mas uma das mais especiais foi o interesse por instrumentos musicais e composições. Na adolescência, tinha no violão o grande aliado para "viajar" e criar melodias, além de estabelecer bases musicais importantes na sua formação. Não chegou a ganhar dinheiro neste segmento, porém teve diversas bandas com amigos e parceiros.

A casa da matriarca também foi o local de montar o primeiro estúdio de gravação. "Acho que a DZ leva esse nome também por conta da música", explica. Foi brincando de produzir suas músicas que surgiu o primeiro CD, lançado em 2000, chamado de: 'Lá vou eu em meu eu oval', com letras e melodias totalmente autorais. Teve até show de lançamento, com direito a um elogio do jornalista Roger Lerina, que escreveu, na época, em um de seus espaços midiáticos a seguinte frase: "Um guri prodígio". 

Logo depois, montou, junto de amigos e um dos irmãos, um estúdio de música. A turma ficou por cinco anos nesse espaço, onde eles faziam shows para amigos e familiares. "Nunca me deu grana, mas muito prazer", exalta. Após produzir o próprio álbum, Davi percebeu que levava jeito e passou incentivar outros artistas, além de compor e investir em talentos.

Em diversos trabalhos de que participou, ele cita dois dos mais importantes: o 'Caosmos', de Pássaro Vadio, vencedor do Prêmio de Música Açorianos 2017, na categoria 'Melhor Álbum'; e 'Everything's Fine', de Luiz Bruno. Em ambos, atuou como Diretor Artístico. O profissional toca diversos instrumentos, no entanto, atualmente, por conta da rotina agitada, não tem se dedicado aos estudos musicais. Hoje em dia, para descontrair, toca 'Tantan' em uma banda de samba, junto de amigos.

Executor de tarefas

Além da música, Davi tem outro hobby: velejar. Há alguns anos, comprou um barco e iniciou no esporte. Atualmente, com crianças e sem tempo para isso, acabou vendendo o equipamento, mas, no futuro, pretende voltar a navegar. Ser multifunções é algo que o jornalista acredita ser uma qualidade. Tudo que deseja, empenha-se para colocar em prática. "Eu sou determinado e um bom executor de tarefas", considera.

Entretanto, avalia que este modo de ser tem um efeito colateral. Por vezes, "passo por cima como um trator". Por conta disso, não consegue aproveitar as oportunidades de aperfeiçoamento das execuções, por estar muito ligado em colocar tudo em prática.  

Torcedor do Internacional, confessa que já foi bastante fanático, sobretudo quando o clube não ganhava muitos títulos, por volta dos anos 1990. Hoje em dia, acompanha o Colorado, porém, não mais com fervor. Davi também já jogou bastante futebol; contudo, acredita que nesse esporte machuca-se muito. "Lesionar-se não é para mim no momento."

Realizado

Ele se sente um profissional realizado, ainda mais depois de ter passado por ocasiões difíceis que a carreira lhe impõe. Davi recorda que, em um determinado momento, pensou em desistir de empreender. Isso porque, logo no início, quando ele e o parceiro alugaram a primeira sala da DZ Estúdio, depararam-se com um roubo de todos os seus equipamentos. "Aquela circunstância foi muito complicada, mas demos a volta por cima e, hoje, estamos firmes", lembra.

Daqui a 10 anos, Davi se vê à frente da DZ, porém, talvez, trabalhando menos. Um dos objetivos também é retornar a produzir músicas e investir em artistas. Para tantos projetos em mente, o jornalista leva um lema de vida, por meio da frase do revolucionário cubano Che Guevara, que diz: "Hay que endurecerse pero sin perder la ternura", que na tradução livre significa: "Há de endurecer-se, mas sem jamais perder a ternura". 

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