Ercy Pereira Torma: Redação e Notícia

O jornalismo na cidade de Rio Grande, em 1952, era feito, na sua maior parte, por colaboradores. Para estar entre eles, era fundamental a paixão pelo ato de escrever.

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O jornalismo na cidade de Rio Grande, em 1952, era feito, na sua maior parte, por colaboradores. Para estar entre eles, era fundamental a paixão pelo alto de escrever. E foi assim, fazendo a cobertura de jogos amadores de futebol, crônicas sobre cinema e trazendo curiosidades para os leitores do jornal Cruzeiro do Sul, um semanário católico que já não mais existe, que o atual presidente da Associação Riograndense de Imprensa, Ercy Pereira Torma, provou o sabor do jornalismo. Isso, claro, por paixão e sem remuneração alguma. Hoje, aos 67 anos, recorda com carinho essa investida, que acabou trazendo-o para Porto Alegre no final dos anos 60.

Foi esse espírito jornalístico que promoveu sua passagem para a secretaria do então Ipiranga Atlético Clube, equipe ligada ao Grupo Ipiranga. "Eu sempre gostei de escrever, inclusive as cartas de amor de grande parte de meus amigos eram feitas por mim, além de trabalhos escolares", lembra. A falta de perspectiva na área do jornalismo, que já "corria no sangue", empurrou-o em direção à Capital. "Vim morar com um cunhado que trabalhava nos Diários Associados e que me levava para a Esquina da Notícia, como era conhecida em 1968 a atual Esquina Democrática". O convívio com os repórteres que ali tinham seu ponto de encontro aproximou-o ainda mais da profissão, e daqueles que eram "ídolos", como Lauro Hagemann, Ruy Figueira, Batista Filho e o atual vice-presidente da ARI, Ênio Rochenbach. "Sem falar no Celestino Valenzuela, que até hoje é, para mim, o melhor narrador de futebol em TV que o Estado já teve", assegura Ercy.

Desse contato só poderia sair um convite para entrar, definitivamente, em alguma das tão sonhadas redações dos veículos porto-alegrenses. E, como acontecia para muitos, a porta estava aberta na editoria de Polícia. "O Edgar Scavinsky, conhecido como Poste, era muito amigo do meu cunhado, e acabou me convidando para sair um dia com ele e começar a realizar as primeiras coberturas", ressalta Ercy, ao lembrar que tudo era feito de jipe, um carro que podia entrar naqueles locais de difícil acesso em que geralmente ocorriam os crimes.

A partir dessas verdadeiras viagens, Ercy Torma conheceu rapidamente Porto Alegre e seus meandros. Na época, o jornalista lembra que a disputa pelo "furo" no noticiário policial era feroz entre o Diário de Notícias, o Correio do Povo, a Zero Hora e a Folha da Tarde. "Dois dias antes do Natal de 68, um ônibus caiu no Guaíba e 23 estudantes morreram: tive de mexer em todos os corpos no necrotério para fazer a identificação, o que se tornava cada vez mais comum". Por fatos como esse e os memoráveis plantões noturnos, Ercy se alinha entre os que consideram a editoria de Polícia a maior escola para os jornalistas iniciantes.

O próximo passo foi entrar no radiojornalismo, via Rádio Difusora, onde trabalhou na montagem de um dos primeiros programas de notícias em que três locutores faziam a apresentação. "O Celestino e o Erni Malta eram insuperáveis, inclusive, para aprontar um para o outro, colocando "cacos" para fazer a ligação entre as notícias", recorda. Também no rádio, Ercy Torma teve a oportunidade de participar da equipe que editava o primeiro noticiário a contar com uma locutora feminina, a Jalma de Arrochellas. Foi em 72, na Rádio Gaúcha, em um programa editado por Lauro Schirmer e Carlos Kolecza. Mais adiante, Torma lembra a vinda de João Garcia, de Pelotas, para trabalhar na equipe que tinha, entre outros, Marco Antônio Baggio, Alda Souza, Olides Canton e Eugênio Bortolon, além do comentarista Jorge Alberto Mendes Ribeiro.

O gosto pelas viagens e por "colocar o pé na estrada atrás da informação" levou-o a optar pela Zero Hora, veículo em que ficou durante 25 anos, até sua saída, em 1994. "Foram muitas aventuras vividas em estradas horrorosas e naquelas antigas Kombi", alegra-se. No entanto, não se vê alegria quando o assunto é a saída da empresa, que então iniciava a adotar a exclusividade como regra.

"De certa forma, ao deixar o jornal acabei tendo todo o tempo que me faltava nas noites, nos finais de semana e nos feriados, o que me possibilitou voltar a fazer coisas que adoro, como assistir a jogos de futebol nos estádios". Ercy também não perde apresentações da OSPA e espetáculos de dança, assim como adora o cinema, desde os tempos em que fazia as resenhas dos filmes em jornais de Rio Grande. "Vou pelo menos duas vezes por semana, buscando filmes que ajudem a colocar os nervos no lugar e reduzir o stress diário", assinala.

Aposentadoria e ética 

Hoje Ercy Torma é sinônimo de ARI. Com cinco anos de presidência na entidade, depois de um período um pouco maior como vice-presidente de Antoninho Gonzalez, o que o leva a muitas atividades, ele garante que ainda há gás suficiente para novas empreitadas. "Tem uma coisa que me deixa um pouco frustrado, que é o fato de não estar produzindo mais, como em algum tipo de assessoria de imprensa ou algo similar", lamenta. Segundo ele, talvez o próprio cargo na associação acabe afastando possíveis convites para desenvolver trabalhos na área do jornalismo. "Não dá para parar, senão emburrece", comenta.

Para não deixar a profissão apenas como lembrança, o jornalista vem encontrando um bálsamo no programa de rádio "Conversa de Jornalista", transmitido diretamente do Bar da ARI pela Rádio da Universidade 1080 AM. "Além de contar com ilustres participantes, como Manoel Braga Gastal, Sérgio da Costa Franco e Raul Quevedo, entre tantos, ainda realizamos o programa naquele que é o único bar abençoado desde sua abertura, em 1945, pelo arcebispo Dom Vicente Scherer".

A vontade de manter a atividade é tida como um projeto pessoal por Ercy Torma, que está pensando em criar atrações novas para a ARI na área de eventos e divulgação, além de aumentar as suas colaborações para jornais e veículos de entidades. "Quero continuar escrevendo, o que faz bem a qualquer jornalista", diz. Para alcançar o sucesso, Ercy Torma entende que é imprescindível manter um comportamento de respeito para com as pessoas, "algo que devemos levar por toda a vida". Para tanto, acredita que como filosofia de vida deve buscar o cumprimento integral de todas as tarefas que lhes são confiadas "com a firmeza dos princípios éticos, respeito e reconhecendo o valor de cada um, mesmo se existam contrariedades entre as partes", enfatiza.

Ercy também reforça sua intenção de elevar a ARI cada vez mais, fazendo jus ao trabalho desenvolvido com afinco por jornalistas como Alberto André e Antoninho. "Procuro valorizar ainda mais o trabalho desenvolvido pela entidade, abrindo-a à sociedade, aproximando-a de outras associações de classe e buscando estar presentes nos eventos em que a entidade é convidada, mesmo que sejam praticamente diários", ressalta.

 

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