Flávio Fachel: Vendendo notícias

Apresentador do 'Bom Dia Rio', jornalista tem um quê de publicitário quando o assunto é informar à população

Flávio Fachel está na escala de apresentação do 'Jornal Nacional', da Rede Globo - Crédito: Reprodução da TV

Tem gente que "nasceu para a coisa" e sabe muito bem disso. Outros, acabam descobrindo pelos labirintos que a vida os leva, sem ter a menor noção onde realmente pararão. É claro que é muito mais fácil saber exatamente o que se deseja para o futuro, mas também traçar um caminho, que levará a um único destino, realmente não é para ele. A única certeza é de que, caso já tenha visto Flávio Fachel no papel de apresentador ou repórter, certamente pensou: esse nasceu para ser jornalista - mesmo que, lá no início, nem ele sabia.

A bem da verdade é que toda esta história começa com a Comunicação, mas, em vez de desejar aprender sobre a arte da informação, gostaria de estudar sobre o mundo da Propaganda. Filho do falecido publicitário Renato Fachel, ele pretendia seguir os passos do pai. Contudo, a alta concorrência no vestibular acabou o levando a escolher uma área completamente diferente: Engenharia. E foi somente por um semestre que não se tornou engenheiro. Isso porque quando estava chegando a hora de se formar, percebeu que não queria realmente aquilo para a sua vida. Afinal, a escolha feita aos 16 anos não refletia o então jovem de 19 anos prestes a ter um canudo em uma área de exatas.

Paralelamente à faculdade, quando chegou à maioridade, frequentou o Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR) de Porto Alegre. O final do curso culminou, justamente, com a decisão de não seguir na Engenharia. Sendo assim, o período trouxe apenas não uma, mas duas mudanças: de cidade e área. O destino? Manaus. O motivo? Servir como tenente do Exército. A próxima faculdade? Publicidade. Bom, era isso que ele esperava: agora sim conseguiria atuar na área que tanto aprendeu a admirar vendo o pai se dedicar. Mas a realidade não era bem essa. A Universidade Federal do Amazonas (UFAM) não oferecia essa graduação. Então, o jeito foi escolher o único curso de Comunicação disponibilizado: Jornalismo. 

Direto para a telinha 

Após deixar o Exército, depois de cinco anos e um estágio na afiliada da extinta Rede Manchete em Manaus, o então tenente retornou à capital gaúcha, mas ainda sem terminar o curso de Jornalismo. "Sou a única pessoa que pediu transferência de uma faculdade federal para uma particular: nem o reitor acreditou, questionando-me se eu sabia que a PUCRS era paga", recorda, ao salientar que a escolha pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul se deve ao fato de ter professores do mercado como Carlos Kober, Cezar Freitas e Alice Urbim. A jornalista, inclusive, é a "culpada" por ele atuar nas telinhas - visto que o incentivou por muito tempo para se inscrever em um projeto do Grupo RBS, o 'Caras Novas'.

Como sempre gostou de tecnologia, "foi um caminho natural ir para o telejornalismo". Naquela época, pagava a faculdade gravando festas de casamento e aniversários com uma filmadora que trouxe de Manaus. E tudo isso começou com o ingresso no Grupo RBS, por meio do projeto incentivado por Alice: ele havia passado no processo seletivo. Começando como repórter da RBS TV em Cruz Alta, após os três meses de experiência cruzou novamente com Urbim, que o avisou: havia apenas uma vaga de editor de vídeo na emissora da Capital. 

Atuando por trás das câmeras no programa 'Cone Sul', comandado por Ivani Schütz, sempre insistia em ser repórter. Foi então que esse dia chegou, quando foi autorizado a fazer uma matéria sobre argentinos e uruguaios em Porto Alegre. O conteúdo acabou chamando atenção da chefia de Reportagem, colocando-o na escala de repórteres do veículo. E, sendo o único disponível em determinado momento, precisou fazer uma matéria sobre uma forte chuva na região de Maquiné, com um grupo de turistas que ficou dois dias isolados no morro. Essa matéria seria veiculada nacionalmente. E da reportagem de rede nunca mais saiu.

Aprendizado chamado Amazônia

Provocado a migrar para a filial da Globo no Mato Grosso do Sul, após seis anos de RBS TV, optou por outro destino. Isso porque, conhecendo as idiossincrasias da Amazônia, devido à vivência que teve quando morou anteriormente em Manaus, escolheu trabalhar na Rede Amazônica - posto que ninguém queria ocupar. Realizando apenas matérias para o 'Jornal Nacional', Fachel considera esta a época de maior aprendizado, pois foi onde mais exercitou a reportagem de TV. Segundo ele, é um outro ritmo, uma outra vida e uma cultura que precisavam ser aprendidos. 

"Foi a melhor parte da minha carreira inteira, inclusive tendo sido correspondente em Nova York", salienta, ao opinar que na Amazônia foi o que o moldou como repórter. Isso porque lá teve a possibilidade de criar, observar e trabalhar esse ponto de vista. Nesta segunda experiência morando no norte do País, conheceu todos os cantos da Amazônia, enquanto cobria quase todos os estados da região - menos o Pará, que pertencia a outro grupo da rede. Ou seja: era um repórter para um terço do território brasileiro. 

Reconhecimento pelo trabalho

De lá para cá, ainda acumula no currículo a primeira passagem de 10 anos pela Globo no Rio Janeiro, quando teve o momento de maior satisfação na carreira, ao conquistar o Prêmio Esso, em uma reportagem-denúncia realizada em conjunto com Tim Lopes, considerado por Fachel mais do que um mero colega, mas um grande amigo, de quem sente muitas saudades. A série sobre a "feira livre" de drogas no Complexo do Alemão, em 2001, foi a primeira categoria de telejornalismo na história do prêmio, que é considerado o "Oscar do Jornalismo".

Destaca, ainda, na sua trajetória quando foi convidado para ser correspondente em Nova York, além do momento atual, na figura de apresentador do 'Bom Dia Rio', que comanda há nove anos. Isso porque é reconhecido na rua por seu trabalho, inclusive, com as pessoas repetindo seus bordões, como "Enquanto o foco for na passagem e não no passageiro, nada vai mudar" e "Olha a hora". "Resumindo: os momentos de maior destaque são sempre os que vêm com feedback", aponta.

Olhando para trás - hoje com mais de três décadas de Jornalismo -, ao ser questionado sobre como ficou o antigo desejo de atuar com Publicidade, ele decreta: considera-se um pouco publicitário, uma vez que gosta de fazer brincadeiras e trocadilhos. Além disso, acredita que seja "um vendedor de notícias", que gosta de fazer slogans e chamadas. "Acho que dá pra falar que faço Jornalismo com molho", brinca. Hoje, ainda está na escala de âncoras do 'Jornal Nacional' e tem no currículo a autoria do livro 'Dicas de #Telejornalismo', lançado de forma independente, em agosto de 2011. 

Longe de ser exemplo de um trecho da música do Jota Quest, 'Sempre Assim', é muito antes das 7h15 que acorda, mais precisamente, três horas e 15 minutos antes - deveres de quem está à frente de um telejornal matutino. Após deixar a casa, localizada na Barra da Tijuca, na capital carioca, chega na Globo e vai direto para o camarim trocar de roupa, antes de ingressar no estúdio onde é gravado o telejornal.

"Nunca olho antes o roteiro do jornal, porque prefiro não saber o que vai ter. Gosto de descobrir junto com o telespectador, para poder reagir e realizar comentários espontâneos." Toda essa informalidade é fruto de uma referência em particular: o 'Jornal do Almoço', que acompanhava na RBS TV quando era criança, inspirando-se em grandes figuras da televisão gaúcha, como Paulo Sant'Ana, Zora Yonara e Tânia Carvalho.

RS sempre com ele

Muito além da influência que as atrações e personalidades da telinha gaúcha têm na sua carreira, Fachel deixou o Rio Grande, mas o Rio Grande não o deixou. Enquanto a mãe, Rejane, vive em Porto Alegre, diz que tem "um pouco daquilo que dizem que o gaúcho sai e vai levar as coisas do Rio Grande Brasil afora". Inclusive, o irmão da Cláudia, do Nelson, do Rodrigo e da Fernanda revela que assume o personagem do gaúcho apresentando um jornal carioca. "Eu não engano que sou gaúcho e digo no ar que sou. Quando falam que 16 graus é friaca, durante a apresentação do tempo, brinco que está apenas fresquinho", conta, divertindo-se.

Gremista, quando o Tricolor foi campeão da Copa do Brasil de 2016, levou uma bandeira para a bancada do telejornal. Além do time do coração, o que não pode faltar em sua casa, em solo carioca, é a cerveja Polar, enquanto todos que o visitam levam mandolate do Maquiné e um pacote de Pastelina. E quando está em São Paulo, o que não pode faltar é uma visita ao supermercado Zaffari, que hoje possui lojas na capital paulista. Além da família, tem amigos que moram em Porto Alegre e admite: está devendo uma vinda à cidade.

Todo esse apego pela capital começou em 3 de agosto de 1965, data que marca o nascimento de Fachel. Criado na Zona Norte, descia a lomba da Cristóvão Colombo para brincar na rua. Na época, saía de manhã nos finais de semana e voltava somente de noite pra casa, enquanto estudava no Colégio Batista. Depois da sexta série, foi a hora de mudar de escola e ir para o Daltro Filho - isso porque a família se mudou para o bairro Jardim Planalto. E não parou por aí: mais tarde, para fazer o Ensino Médio, na época conhecido como Segundo Grau, finalizou os estudos no Colégio Rosário. "Sempre fui o mais novo da turma: entrei com cinco anos na primeira série e me formei com 16 anos", recorda. Da adolescência, ainda carrega o gosto pela Dance Music, apesar de estar no momento "em uma fase mais Heavy Metal", dando play em bandas como Iron Maiden e Metallica.

Paixão por tecnologia

Toda aquela paixão por tecnologia, que o fez comprar uma filmadora em Manaus e também o levou para as telinhas, perdura até hoje. Tem como hobby pilotar drones - no momento, possui quatro - e, inclusive, é um dos fundadores da Associação Brasileira de Multirrotores (ABM). Além disso, tem muitos tipos de câmera. "Gosto de experimentar muito e testar essas tecnologias para estar atualizado sobre o que está acontecendo." 

E não é só nesta hora que o gosto por vídeo aparece em sua vida. Quando não está atrás da telinha, mas na frente dela, gosta de assistir qualquer atração que tenha um novo formato, pois tenta entender como foi feita. Exemplo disso são os filmes que chama de "enlatados" e que adora porque tem efeitos especiais e equipamentos tecnológicos, a exemplo de títulos de Ficção Científica, como as sagas 'De Volta para o Futuro', 'Star Wars' e 'Jornada nas Estrelas'. Em relação às séries, cita 'Breaking Bad' e o seu spin-off 'Better Call Saul', tendo em vista que adora o enquadramento e a linguagem que os diretores se valem nas tramas. Ele, que não segurou as lágrimas algumas vezes no ar, confessa que sempre chora quando assiste a algum título que seja Drama.

Casado há 30 anos com Patrícia, com quem teve o filho Lucas, de 25 anos, hoje, olhando para trás, sente-se realizado. Inquieto e entusiasta das tecnologias e dos formatos de vídeo e televisão, possui como lema simples e puramente permanecer vivo. E, enquanto isso, o plano é somente um: criar até o final. 

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