João Paulo Dias: Um idealista determinado

Sócio-diretor da Paim e recém-empossado presidente da Associação Riograndense de Propaganda (ARP), Jopa é otimista quanto ao futuro do mercado publicitário gaúcho.

Sócio-diretor da Paim e o mais novo presidente da Associação Riograndense de Propaganda (ARP), João Paulo Dias, 48 anos, é otimista quanto ao futuro do mercado publicitário gaúcho - embora acredite que muitas mudanças são necessárias. Conhecido como Jopa, apelido que o acompanha desde a infância e se tornou uma marca profissional, ele é idealista e não cruza os braços quando o assunto é a realização de seus sonhos. Dedicado à família e aos momentos de lazer, não abre mão de seu tempo livre e o aproveita com hobbies pouco comuns.


Natural de Porto Alegre, Jopa sempre viveu na capital gaúcha e se diz essencialmente urbano. Caçula de quatro irmãos, chegou a pensar ser a ovelha negra da família, toda formada por engenheiros. Entretanto, seu pai, o engenheiro civil Milton, e sua mãe, a engenheira química Maria Luíza (ambos falecidos), tiveram sensibilidade para perceber as características do filho que, desde cedo, não mostrava afinidade com as ciências exatas. "Eles tiveram a sabedoria e a isenção de não impor nada, me respeitaram", conta. Hoje, os irmãos Homero e Mário atuam como engenheiros e Heloísa, a primogênita, trabalha como administradora de uma agência de publicidade. "Ironia do destino", diverte-se.


Um fato marcante de sua infância foi o primeiro negócio, que ele formou aos nove anos de idade. Determinado, tornou-se um fabricante de placas para estabelecimentos comerciais com avisos como "Ar condicionado" e "Saída". "Eu sempre gostei de empreender, esse é o meu traço mais forte desde criança", justifica, lembrando com bom-humor da brincadeira. Mais adiante, na adolescência, trabalhou na extinta loja de departamentos Guaspari, passando por diversas funções. Entre elas, curiosamente, a de vendedor de roupa íntima na seção feminina. "Eu vendia anáguas naquela época", revela.


A experiência acabou despertando em Jopa o gosto pelo exercício da persuasão e o interesse pelas relações interpessoais e resultou, alguns anos mais tarde, na escolha pela Publicidade. "Mas isso eu só fui racionalizar depois", explica. Assim, em 1976, ele ingressou na PUC e encontrou na comunicação os desafios que procurava. Em sala de aula, conheceu Antônio D"Alessandro - atual diretor da agência DCS -, ex-colega com quem cultiva amizade até os dias de hoje. Empolgado com a entrada na faculdade, buscou um estágio já no primeiro dia de aula. "Uma colega escreveu no quadro que havia uma vaga em Mídia em uma agência chamada Mensagem e eu fui atrás", conta.


Da Mensagem à Paim


A partir daí foram nove meses de trabalho voluntário. "Acho que a entrada dos estudantes no mercado deve ser assim, logo de cara. Tive colegas talentosos prejudicados pela demora", opina. O estágio lhe proporcionou a prática na área de Mídia e, também, o conhecimento sobre o funcionamento geral de uma agência. Foi quando decidiu buscar uma ocupação remunerada, em 1977. Duas vagas estavam abertas na Novagência, empresa de São Paulo com escritório em Porto Alegre , e ele e Jorge Alberto Schertel - atual sócio da produtora paulista Zero Filmes - foram os escolhidos. Ele para a área de Mídia e Scherter para a área de Atendimento.


Jopa permaneceu na Novagência após concluir a graduação, em 1979. No ano seguinte, passou a integrar a equipe da Marca Propaganda, no departamento de Atendimento, onde trabalhou por apenas um ano, quando recebeu um convite para retornar à Novagência na condição de gerente. "De repente, a matriz em São Paulo decidiu fechar a filial de Porto Alegre e eu não entendi porquê", relata. Os bons negócios e a grande lista de clientes fizeram com que ele não desanimasse e aproveitasse a estrutura da antiga agência para criar seu primeiro negócio próprio: a Centro de Propaganda, em 1983. "Foi assim, de maneira acidental", resume.


Seu empreendimento próprio nasceu de uma parceria com Dicki Shertel - hoje presidente da Associação Brasileira de Agências de Propaganda (ABAP) -, que estava de volta a Porto Alegre após uma temporada em São Paulo . Dicki é irmão de Jorge Alberto Schertel, com quem Jopa havia trabalhado até o momento. A agência teve sucesso e foi bastante ativa até 1995, "quando eu enfiei na cabeça que queria atuar no mercado paulista", confidencia. Decidido, vendeu sua parte na empresa para o sócio Dicki, e começou a planejar a mudança para o centro do país.


A insatisfação que sentia, Jopa associa ao mercado gaúcho. "Eu não gostava da maneira como a publicidade era feita e do relacionamento entre as agências locais, nem do relacionamento entre as agências e seus clientes", explica. Entretanto, uma conversa informal com Marcos Paim fez com que seus planos mudassem radicalmente. "Ele me fez entender que o que eu queria não era mudar de endereço e, sim, mudar o mercado em que eu atuava", fala. Marcos acabou seduzindo-o com a proposta de uma agência diferenciada, a Paim, que dava seus passos iniciais. "Eu já tinha reservado um apartamento em São Paulo e minhas filhas já haviam escolhido um colégio. Mas mudei de idéia na hora", conta com o entusiasmo de quem fez a escolha certa.


Assim, se associou à agência Paim, onde atua até hoje, há 11 anos, com os mesmos ideais. Ele dirige a agência ao lado de dois outros sócios além de Marcos: César Paim e Lairson Kunzler. E assegura que o entendimento entre eles é total. A recente posse na presidência da Associação Riograndense de Propaganda (ARP) parece ser a ferramenta que precisava para continuar sua busca por melhoras no mercado publicitário. "Ainda idealizo uma nova forma de exercer a publicidade e contribuir, de fato, para os anunciantes fazer a diferença na vida dos clientes", projeta. "Acho que estamos em um período de evolução da espécie", brinca. Otimista, ele diz estar vendo o cenário da propaganda gaúcha de forma diferente após 30 anos de trabalho no meio.


Jopa ainda acumula as funções de diretor de Marketing da Associação dos Dirigentes de Marketing e Vendas do Brasil (ADVB), cargo que assume pela terceira vez, e de membro honorário do Instituto de Estudos Empresariais (IEE), entidade que analisa as questões da economia e do livre mercado e dedica-se à formação de líderes. "Na ADVB a equipe é grande e minha contribuição é mais diluída. No IEE eu participo apenas dos conselhos, sou um dos fundadores e hoje minha filha é que está mais empenhada nas discussões", conta.


Com o pé na estrada


Suas duas prioridades na vida são a família e o trabalho e, por isso, esforça-se ao máximo para conciliar ambas de maneira harmoniosa. "Eu nunca abri mão da minha responsabilidade profissional e nem da minha convivência familiar", enfatiza. Casado há 25 anos com a psicóloga Karin Hagemamn, Jopa é pai de duas filhas: Ana, 23, e Helena, 19. "Elas compreendem bem a minha rotina de trabalho porque acompanharam a minha trajetória. Em especial a Karin", afirma. O fato de suas duas filhas também atuarem no meio publicitário contribui para fortalecer as boas relações familiares. Contudo, ele garante não ter influenciado as meninas, repetindo a postura isenta de seus pais.


Preocupa-se muito em desfrutar a vida e não deter-se apenas no trabalho. Entretanto, seus hobbies não cooperam com o estilo de vida que ele imagina ser o ideal. "Adoro esquiar e praticar mergulho, mas não é algo que eu possa fazer todos os dias, na hora do almoço", faz graça. Seus passatempos fazem com que as viagens a lazer sejam freqüentes. Gosta de ir até o Chile ou a Argentina para esquiar e, fora da América Latina, os destinos preferidos são os Estados Unidos e o Canadá. Aos finais de semana costuma ir para Garopaba, em Santa Catarina , onde tem uma casa à beira-mar. "É um lugar paradisíaco", define. A linda paisagem inspira não apenas o gosto pelo mergulho, mas, também, uma de suas metas no momento: aprender a surfar.


Jopa ainda tem energia para arquitetar a realização de dois projetos considerados por ele como sonhos. O primeiro, engajar-se em alguma atividade voluntária ligada ao terceiro setor. "Tenho um contato apenas profissional com a área, já que a Paim presta serviços gratuitos há seis anos para a Parceiros Voluntários. Mas quero fazer algo além disso", explica. O segundo sonho é, um dia, escrever e publicar um romance. "Não sei se tenho capacidade, mas tenho essa pretensão", avalia. 


Em relação às preferências gastronômicas e musicais, o publicitário surpreende pela visão quase antropológica. Admira a culinária e procura conhecer pratos típicos de diferentes culturas em suas viagens. Também aprecia pratos sofisticados, mas ressalva: "A comida sofisticada é padronizada em todos os lugares. Então, procuro características locais, particulares". "Gosto das cores", complementa. Um dos lugares mais visitados por ele em Porto Alegre é o Mercado Público, para passeios gastronômicos e de lazer. A música, Jopa encara da mesma forma: "Adoro Jazz, mas escuto mesmo é música popular, nas rádios FM, quando ando de carro".


Eclético ao extremo, ele diz ser esta sua maior virtude - qualidade que o auxilia, inclusive, no trabalho. "Um publicitário não pode ser preconceituoso", defende. A Festa do Peixe, no Litoral Norte do Estado, a Feira do Livro, na capital, e o Aniversário de Porto Alegre estão entre os seus programas mais relaxantes e divertidos. "Gosto da atmosfera dos eventos populares, da movimentação, isso me cativa", descreve.

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