Marcelo Chemale: Entusiasta da segunda-feira

Pai-coruja, jornalista do SBT-RS também se considera um profissional realizado

Pode não ser comum, mas Marcelo Chemale Selistre e Silva considera a segunda-feira um dia especial. "Ela é como se fosse um Ano-Novo toda semana", destacou o jornalista do SBT-RS, na conversa realizada neste dia da semana. Toda essa relação começou justamente no nascimento, em 17 de fevereiro de 1975, no Hospital Beneficência Portuguesa, em Porto Alegre. 

Inclusive, o primeiro programa em que participou, o 'Clube do Ouvinte' na Ipanema, com a Katia Suman, acontecia nas noites de segunda. Conforme o comunicador, além de simbolizar o início do trabalho, é quando ele projeta as energias. "Claro que eu também gosto da sexta-feira, quando a semana termina, para a gente poder dar uma relaxada", comenta.

Do corporativo à Comunicação

E toda esta jornada de trabalho nas segundas-feiras começou aos 20 anos, apesar de não ser na área de Comunicação. O primeiro emprego foi no setor administrativo do Complexo Hospitalar Santa Casa. A entrada se deu para poder realizar o sonho de estudar. Isso porque ele tentou, por duas vezes, ingressar na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Sem êxito, começou a trabalhar e, em 1998, entrou na Ulbra. Para pagar a faculdade, dobrou o turno, atuando também à noite, de segunda a sexta, das 22h às 7h, e, após, saía direto para a academia. "Foi um período de bastante esforço mental e físico", relembra. 

Com incentivo do hospital, Marcelo cursou concomitantemente Publicidade e, em 2001, começou na área de Projetos Especiais da Santa Casa, ligada ao Marketing e à Comunicação, quando atuou na modernização do complexo. No início de 2003, no entanto, sentiu que precisava tentar uma oportunidade em algum veículo de Comunicação. Mesmo com uma filha de dois anos, trocou a carteira assinada por um estágio na rádio Band, onde ficou por um ano. Em 2004, nascia a Ulbra TV e foi onde ele teve a primeira experiência em televisão. Chamado por Sandra Porciuncula, iniciou na produção de 'Motor e companhia'. A estreia na reportagem veio por intermédio do apresentador da atração, Andrei Rossetto. Com a saída do âncora, Marcelo assumiu também o comando do programa e aprendeu "uma outra linguagem corporal".

"Furando" a RBS TV

Em 2007, a Ulbra TV estava com novos profissionais, como Maria do Carmo Bueno, que designou Chemale para o núcleo de Jornalismo, e Ricardo Azeredo, um dos âncoras. Nesse período, virou setorista do Palácio Piratini e da Assembleia Legislativa, cobrindo o dia a dia da Política, no governo Yeda Crusius. Foi na cobertura sobre a fraude dos selos que o repórter "furou", pela primeira vez, a RBS TV. Depois de tentar pistas na ALRS e na Polícia Federal, Marcelo foi com um repórter cinematográfico até a Lomba do Pinheiro, pois ele tinha pistas de onde o material era escoado para venda em lotérica.

Gravando do lado de fora do local em que os selos eram vendidos, Marcelo encontrou um cartão de um personagem principal daquela fraude que ninguém conhecia até aquele momento. Era a prova de estelionato. A matéria foi gravada e rodada no jornal da noite, mas não sem antes entregar a comprovação ao delegado Gasparetto. 

No final de 2007, ele foi para a Record, onde ficou por cinco anos e recebeu o primeiro prêmio, fez matérias de rede e especiais aprofundadas, que lhe promoveram na carreira. No entanto, com a troca de chefia, foi demitido. Com a filha estudando em escola particular, e em choque, o profissional escondeu da família o quanto podia sobre essa notícia. Depois, passou pelo Tribunal Regional do Trabalho, em um programa que veiculava na TV Justiça. Ainda atuando no TRT, no final do ano, Aline Goulart o chamou para a Band TV, onde estreou em 5 de janeiro de 2012, como freelancer.

Contudo, no mesmo dia da estreia, recebeu uma proposta do Rossetto, que estava no SBT-RS. Assim, trabalhou na Band de manhã e, à tarde, se reuniu com o diretor de Jornalismo do SBT, Diego Sangermano. O profissional até tentou conversar com Renato Martins, diretor de Jornalismo na Band na época, para criar uma vaga efetiva. Com a negativa, ficou duas semanas e foi para a emissora em que completou uma década de dedicação em 2022.

Um sobrevivente

A primeira entrada para o 'SBT Brasil' foi impactante para Marcelo, ao cobrir um assalto com 30 reféns à agência do Bradesco na Azenha. Entretanto, foi o episódio na "curva da morte", em Farroupilha, que o marcou profundamente, profissional e pessoalmente. Afinal, ele sobreviveu a um acidente que vitimou dois colegas, em 2002. No episódio, um grupo de carros de diferentes veículos da imprensa acompanhava uma operação policial. Ele considera que o fato de estar vivo é uma questão de destino e "de muita competência do meu motorista Júlio Silva". Isso porque o responsável por conduzir o carro se afastou do comboio policial e ficou na frente do da imprensa. Assim, quando veio o caminhão na contramão, ele viu antes os carros indo para o barranco e para o acostamento, e conseguiu desviar. "E a gente escapou por muito pouco, podendo ser testemunha daquilo", exaltou ele, ao lembrar que, naquele dia, a imprensa virou notícia. 

Ao sair do carro e ver a tragédia que havia acontecido, Chemale recordou que todos os colegas choraram por uns 15 minutos, porém, sabia que precisava registrar a história. Foi com um depoimento ao vivo a um colega da rádio Gaúcha, Jocimar Farina, que o repórter mostrou à sua mãe, que estava em Porto Alegre, que ele estava bem. Em 2012, ao completar 10 anos do ocorrido, Chemale retornou ao local, com dados exclusivos, para fazer uma reportagem. Ele confessou que sentiu muito mais e precisou de um tempo, antes de gravar, para agradecer pela vida. "Foi algo assim de grande impacto no meu emocional e profissional. Ajudou a criar uma casca de resistência, uma couraça para enfrentar as coisas. E me ensinou a tirar sempre lições dessas experiências."

A imparcialidade e o respeito com todos os públicos e fontes com os quais atua são algumas das características que ele destaca em si. Assim, acredita que pode circular em diferentes ambientes e conversar com diversas pessoas. Para ele, o jornalista precisa ser versátil. "Eu tenho que andar com a mesma naturalidade em que eu ingressava com as polícias nos becos, nas vielas mais humildes de Porto Alegre, assim como nas escadarias do Palácio Piratini ou no plenário da Assembleia Legislativa", compara.

Importância musical

Toda essa trajetória e a escolha pelo Jornalismo começaram a partir de uma forte influência do interesse pela música e pelo entretenimento. Eclético, Marcelo adora ir a shows. E o Rock in Rio de 1985 foi "um divisor de águas" na vida dele, visto que se encantou pela questão midiática do espetáculo. Além dele, a prima Andrea Chemale também foi ao evento e, a partir disso, tornou-se jornalista e uma referência para o primo. 

Desta forma, a partir do episódio, passou a prestar mais atenção nas questões relativas à televisão, à cultura e à música. "Curiosamente, isso foi me levando para o lado do Jornalismo." Apesar desses interesses, Chemale nunca foi setorista da área. A escolha da profissão também foi motivada por professores de História e Sociologia da escola em Santo Antônio da Patrulha. 

Apesar de estar em uma família de advogados - sendo a profissão do pai, Flávio Juarez, da mãe, Eliane, que também é professora, bem como da irmã, Michelle -, não houve qualquer pressão para que ele seguisse na área. Ele até cursou Direito por um período na Ulbra, depois de formado em Jornalismo pela mesma instituição. O trabalho, porém, não permitiu que ele continuasse os estudos, apesar de ter de um dia retomar os estudos.  

Paixões fora da tela

Além da música, Marcelo é apaixonado pelos animais e se considera "avô de duas gatas", resgatadas pela filha e pelo namorado: Minerva e Gaya. Cachorreiro, o último cão que teve foi Zyon, da raça pitbull, que viveu 15 anos. Entretanto, só não possui outro pet agora por acreditar que o espaço onde mora é pequeno e ele não teria tempo para se dedicar, apesar de ser um desejo que pretende realizar.

Outra adoração do comunicador são os esportes. A Copa de 1982 marcou a infância e, apesar de ter um time do coração, prefere não revelar e se manter neutro, por respeito ao telespectador. No entanto, o apresentador se questiona se isso diferencia o resultado do trabalho e pensa em, talvez, um dia falar sobre isso.

Outras modalidades pelas quais o jornalista é apaixonado são o surfe e skate, além do automobilismo, em especial a Fórmula 1. Esse último foi influenciado pelo pai, que o levava desde bebê no autódromo de Tarumã. Além disso, está nos projetos para 2023 voltar a nadar.

Redenção: compartilhando lembranças

Olhando para trás, os passeios de pedalinho no Parque Farroupilha, na capital gaúcha, são algumas das boas lembranças da infância. São recordações que ele também quis criar com a filha, Jade Trepitow Chemale, quando ela era criança. "Os parquinhos, balanços e as primeiras brincadeiras também foram na Redenção", destacou.

Hoje, com 22 anos, publicitária e fundadora da Jade Comunicação Digital, Jade é fruto do primeiro casamento. Na separação, quando ela tinha seis anos e a mãe foi morar em Santa Catarina, Marcelo ficou com a guarda. Para ajudar na educação, os pais foram morar com ele, que, além de Michelle, ainda tem um meio-irmão, Fernando, por parte de pai.

Desde 2014, o comunicador é casado com a fonoaudióloga Bianca Rodrigues Machado. Apesar do namoro ter começado em 2011, os dois já se conheciam desde 1997, quando Bianca tinha 11 anos e Marcelo 21, pois ela é amiga da irmã dele. Até por isso, um dos medos do jornalista no início do relacionamento foi a reação da filha. Inclusive, o casamento foi no mesmo mês da Copa do Mundo de Futebol no Brasil, período em que o apresentador comentava no 'SBT Rio Grande Manhã'.  

Vida no interior

Outra recordação, já da adolescência, é a de morar em Santo Antônio da Patrulha. A mudança ocorreu quando Marcelo tinha por volta dos 14 anos, motivada pela violência da cidade grande. Em 1987, o pai sofreu um assalto após sair de um cliente na Zona Sul de Porto Alegre, onde recebeu os honorários advocatícios em dinheiro. Flávio levou um tiro, quase morreu e perdeu, por um tempo, os movimentos do braço direito. Por uma questão psicológica, o advogado fechou o escritório e foi com a família morar em um sítio - que até hoje é mantido por eles. 

Tempo marcado pela reestruturação para todos, na época a mãe, que trabalhava no departamento jurídico da Secretaria de Educação do Estado, voltou para a sala de aula. Enquanto isso, o pai virou produtor rural, enquanto foi um choque para Marcelo, uma vez que não havia nem luz quando eles chegaram no local.

A família viveu durante quatro anos no município, onde estudou a oitava série do Ensino Fundamental, no colégio Marçal Ramos, bem como os três anos do Ensino Médio na Escola Estadual Santo Antônio da Patrulha. Nessa época, com a ajuda de professores que ele lembra com carinho, iniciou o interesse pela área das humanas, como sociologia e política, e conquistou os melhores amigos, que preserva até hoje.

Realizado

Marcelo se considera um ser humano privilegiado, realizado como pai - assumidamente coruja, apaixonado e com um orgulho da mulher que a filha se transformou - como marido, e profissionalmente, sempre com muita gratidão a todos os colegas e amigos que o ajudaram. Para ele, o jornalista é um historiador. "Ele escreve a história de hoje que vai ser contada daqui a um tempo, então é uma missão", destaca, ao afirmar que também é um desafio ser um formador de opinião. 

A satisfação passa pela maneira de ver o mundo, da relação de gentileza entre os seres humanos. Apaixonado pelo que faz, o comunicador sempre gostou de contar histórias de gente "que tem muito da faculdade da vida a ensinar". Considerando a reportagem a atividade mais essencial do jornalista, apesar de ele estar atualmente no estúdio, sempre que pode, sai à rua, pois, para ele, "ser repórter é um estado de espírito, é um olhar de 360°, sempre de respeito às outras pessoas, de humanização das coisas, de não julgar, de não ter pré-julgamento", conclui.

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