Militão Ricardo: Vida de conexões

Jornalista e professor, ele cresceu em Brasília, onde moldou seu pensamento

Em uma rápida busca no Google, acha-se o significado de conexão. Para ele, são apresentadas três definições: ligação, união e vínculo. É claro que este texto não se propõe a ser uma simulação de dicionário, mas é necessário entender o sentido desta palavra tão importante na vida de Militão de Maya Ricardo. Ele, que é jornalista e professor, tem uma vida repleta de conexões, tanto pessoais quanto profissionais, sendo conectado à paixão pela música e por lecionar, e até Brasília, onde moldou sua personalidade.

Nascido em 28 de setembro de 1963, em Porto Alegre, ele cresceu em Brasília, e foi na juventude da capital federal que desenvolveu o amor pela música e pelo Jornalismo. A saída daqui o ajudou a arejar a cabeça, quase que literalmente, já que deixou um local apertado, com prédio para todos os lados, para outro amplo, com muita arborização e amplo espaço, como destaca. Foi no centro administrativo do País que Militão abriu o pensamento para o mundo ao seu redor, ajudando-o a desenvolver seus traços.

Convivendo com uma aurora musical, que revelou grandes bandas, como Legião Urbana, ele apaixonou-se pela música. "Depois que entrei na faculdade, comecei a tocar bateria, aprendi violão. Montei uma banda naquele momento que estava surgindo o rock de Brasília", relembrou. A música, aliás, é traço marcante em sua vida, que tem em vários artistas suas referências, como George Harrison, Paul McCartney, John Lennon, Ringo Starr... e por elas não é de se estranhar o seu lema, que parafraseia o título de uma famosa música dos Rolling Stones: It's only rock and roll (but i like) - É apenas rock and roll (mas eu gosto), em tradução livre.

A cidade natal, no entanto, só veio a ter a devida importância na vida de Militão anos depois, quando voltou ao solo gaúcho. O retorno foi impulsionado por duas grandes relevâncias. A primeira foi a namorada, hoje esposa, Ana Lúcia, com quem vive há 31 anos e com ela tem dois filhos, o Pedro, de 26 anos, e o André Ricardo, de 24. O casal estava, de fato, conectado, já que os dois se conheceram ainda na infância e compartilham a paixão pela música, uma vez que ela é cantora em um grupo vocal, o Sol De Si. O amor dos dois pelo mundo musical foi passado aos filhos: "Lá em casa, todo mundo toca algum instrumento". Ele lembra que muito tempo depois de sair de Porto Alegre, ainda em Brasília a reencontrou - e ali começaram a namorar. Por um ano, corresponderam-se por cartas e telefonemas, até que ele veio em definitivo para a capital gaúcha. "Acho que deu certo, não é?", brinca, ao contar a história com a mulher. 

O outro motivo foi perceber em Porto Alegre o florescer de uma cena musical que havia começado nos anos 1980. Na época, ele já trabalhava nesse mundo como jornalista cultural. Voltando para os Pampas, foi aceito no Correio do Povo, porém, foi dispensado em decorrência do Plano Collor, que fez com que o veículo ficasse receoso com novas contratações.

Conexão Brasília

A ida para a capital do Brasil foi motivada pelo convite que o pai, também chamado Militão, recebeu. Arquiteto urbanista, foi empregado pelo Governo Federal. Então, aos 11 anos, Militão filho mudou-se junto com a família - a mãe Rosa Maria e a irmã Luciana - para a cidade que o marcaria para o resto da vida. No Lago de Brasília, ele praticava o esporte preferido: vela. Foi nessa época que pôde conhecer e fazer amizade com os irmãos Grael, membros de uma das famílias mais vitoriosas dos Jogos Olímpicos, com nove medalhas conquistadas na modalidade. A prática esportiva, aliás, é aliada de Militão até hoje, pois agora pratica tênis com assiduidade em um clube perto de casa. "É parte da higiene mental, para ter um equilíbrio, mexer o corpo... O esporte faz parte da minha criação e aprendi muito com ele, até depois de adulto", explica.

Foi a partir de 1979 que a cabeça de Militão foi "virada do avesso", já que ele acompanhou todo o florescimento cultural de Brasília. Como relembra, na época, a cidade era repleta de artistas, de músicos, de teatros. Ele também pôde conhecer o poeta Nicolas Berg, que o fez amar o solo brasiliense a partir de seus textos. Tudo isso moldou seu pensamento e o fez prestar vestibular para Música. Mas o interesse pela mídia o conduziu ao Jornalismo: "O rock and roll estava sempre na TV, no rádio, no cinema, então me interessei naquele mundo". Logo, em 1987, formou-se jornalista pela Universidade de Brasília e, um ano depois, concluiu a graduação em Produção Audiovisual.

No tempo de faculdade, como conta, foi quando começou a carreira, ainda na primeira banda que montou. "Comecei a enxergar aquilo profissionalmente", explicou. Com o grupo, inclusive, fazia shows, o que lhe rendia o pagamento de cachê e, posteriormente, a assinatura de contrato com uma gravadora internacional para gravar uma faixa. Depois disso, uma nova oportunidade chegou: a de ser produtor musical, quando foi convidado a trabalhar em um estúdio de Belo Horizonte. Aquela foi a primeira experiência na função. "Acho que ali descobri um 'troço' bacana, que gosto de fazer", recordou.

Mas a vida de Militão ainda estava ligada ao Distrito Federal, para onde voltou e começou a trabalhar, pela primeira vez com Jornalismo, como repórter e crítico musical do Jornal de Brasília. Chegou um momento em que o Caderno de Cultura estava sendo implementado, e que tinha muita liberdade para escrever. "Era um jornal no formato standard, então a gente tinha espaço para descrever as coisas, para fazer uma boa arte, abrir foto, produzir coisas legais", relata. O trabalho, que considera fantástico, antecedeu sua volta para o Rio Grande do Sul.

Conexão Porto Alegre

Militão, que se caracteriza como uma pessoa movida por desafios, embarcou em mais um ao vir para Porto Alegre. E foi onde se encontrou com o maior obstáculo da carreira, em um lugar novo, uma vez que até ali a maior parte da vida havia sido em Brasília, e ele teve que lidar com a falta de capital social. Além disso, à época, o mercado gaúcho de Comunicação era muito restrito. Impossibilitado de trabalhar no Correio do Povo naquele momento, ele rumou para outra oportunidade, quando foi chamado para fazer parte da equipe da Casa de Cultura Mário Quintana. Participou da inauguração do centro cultural, estando à frente da gerência de eventos musicais.

Porém, a dificuldade de entrar na imprensa gaúcha não o fez parar e decidiu, então, estudar Marketing. "Foi algo muito importante, que abriu a minha visão de Comunicação. Inclusive, descobri que o jornalista, pela característica dele, pode ser um grande profissional de Marketing", conta. A escolha, que vê como acertada, foi impulsionada pelo tempo que tocava em sua banda. Lá, já havia experimentado traços da profissão, quando era responsável pela administração do grupo e marcação de shows. Sempre em busca de qualificação, Militão decidiu dar início a uma nova fase, quando entrou no mestrado de Comunicação Social da Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em 1995.

Conexão acadêmica

Eis que a vida de Militão foi conectada a mais uma paixão: lecionar. Durante uma aula, uma colega se aproximou e contou sobre uma vaga de professor na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). "Fui lá e foi muito bacana. Deu aquele nervosismo, de começar algo pela primeira vez. Mas, em cinco minutos dentro de sala de aula, eu estava completamente à vontade e disse: Bah! descobri algo que gosto fazer", comenta.

Militão, de natureza inquieta, sempre procurou antecipar o que havia de novo no mundo, e no final dos anos 1990, a internet começou a ficar cada vez mais disponível a todos. Ele, então, já havia instalado um ponto em sua casa e foi isso o que o possibilitou a dar mais um grande passo na carreira. Na época, nenhum professor tinha familiaridade com a web e ele, ainda no mestrado, foi convidado a orientar um Trabalho de Conclusão de Curso que falava sobre publicidade na internet. "Foi a minha porta de entrada para a Famecos", recorda. A partir daí, ajudou na implementação de uma rede virtual na escola de Comunicação. Também esteve à frente de um dos primeiros laboratórios de Jornalismo digital do Brasil, o Ciberpan, junto a cinco alunos que já tinham conhecimento em montagem de sites. "Fizemos coisas interessantes. Na Copa de 1998, o pessoal mandava a matéria e botava no site de casa mesmo, com texto, imagem, vídeo", enaltece.

Tempos depois, também trabalhou em mais um projeto do qual lembra com orgulho, quando ajudou a montar o curso de Jornalismo do Instituto Porto Alegrense (IPA). Como alguém movido também pela inovação, trouxe novas ideias ao ensino da profissão. "Fizemos uma leitura do mercado, então, organizamos os conteúdos buscando formar profissionais que, além de serem bons investigadores, estivessem preparados para trabalhar em outro ambiente, em assessoria de Comunicação, em gestão de Comunicação, a ser empreendedor", detalha.

Mas foi na faculdade do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) que ele voltou a se conectar a uma antiga paixão: a produção de áudio. Militão atua como professor do curso de Produção Multimídia. Ele conta que desde a juventude fazia gravações em casa, no seu home estúdio, ainda no tempo de equipamentos analógicos. Quando os eletrônicos chegaram ao mercado, não demorou a se aparelhar. Com ele, os alunos aprendem sobre produção de trilhas sonoras e de áudio publicitário.

Conexão casa

Talvez a maior conexão de Militão seja com a casa, pois é onde passa boa parte de sua rotina, seja dando aulas síncronas ou trabalhando na Mr. Maya Música e Conteúdo, empresa que gerencia junto ao sócio, o músico Vitor Soares, ou brincando com a shitzu Fucha. Ali, vive sua semana, entre uma reunião e outra, e um atendimento e outro aos clientes da empresa. O estúdio particular, de onde concedeu a entrevista, confunde-se com outra paixão: a leitura - o que é visível, dada a grande quantidade de livros espalhados pelo cenário. Entre eles, destaca-se um exemplar de 'Incidente em Antares', sua leitura preferida, obra escrita por Erico Verissimo, uma de suas referências. Também fazem parte de seu gosto as biografias, porque, como comenta, "às vezes, a vida supera, em muito, a ficção".

É em casa também que cultiva um de seus hobbies preferidos, o que ele chama de 'conversa de fogão'. "Uma coisa que eu e a minha esposa gostamos de fazer é cozinharmos juntos. Chamar alguns amigos para um bate-papo em volta do fogão, algo simples." Ao olhar para trás, Militão diz estar satisfeito com tudo o que construiu e tem orgulho dos profissionais que ajudou a colocar no mercado. E, ao pensar no futuro, diz buscar mais desafios que o movam. "Olho pra frente e quero montar essa produtora, que antes era só eu, agora somos eu e mais um sócio. Então, é seguir crescendo, me estruturando. Também estou reservando uma parte do meu tempo para fazer coisas que me dão satisfação", encerra.

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