Roberto Pauletti: O bom filho à casa torna

A carreira de diretor comercial começou no Correio do Povo, aonde retornou depois de uma trajetória de sucesso na RBS.

Um dos talentos do futebol de salão gaúcho das décadas de 1970 e 1980, Roberto Pandolfo Pauletti conta hoje, aos 52 anos, recém-completados no último 9 de junho, que se dedicou profissionalmente ao esporte por 14 anos para se sustentar e pagar a faculdade. "Tive sorte que peguei uma boa época do futsal, desde o juvenil. Joguei todos esses anos ganhando salário, no Internacional, no Grêmio, que tinham um futsal forte. Aquela grana me ajudou a construir minha vida, além de poder viajar pelo Brasil e pelo mundo", relata. A pergunta se foi um craque do esporte é respondida com um largo sorriso: "Craque não posso dizer que fosse, mas foi muito rico para mim. Hoje, seguidamente, chego nos lugares e as pessoas da minha idade ou um pouco menos, que tinham acesso aos jogos no Colégio Rosário e nas universidades, dizem "Bah, eu me lembro de ti". Isso, no meu mundo, nesse meu universo, é muito importante, porque é um quebra-gelo".


De jogador a homem de negócios


Esse mundo a que se refere é o dos negócios. Paralelamente à vida de jogador, ele cursava a faculdade de Administração de Empresas na PUC, onde se formou com ênfase em Marketing. Seu currículo acadêmico ainda inclui especialização em Financial Management na Kellock, em Chicago, Estados Unidos, e uma série de outros cursos "que todo profissional da área tem que fazer para estar sempre atualizado". Pauletti acredita na importância de uma formação qualificada para o exercício de sua atividade: "Dificilmente tu vais melhorar tua performance, mas tu melhoras a compreensão, e ficas sempre atualizado, até para poder interagir com pessoas mais jovens".


Sua juventude foi bastante atribulada, pois o futsal não era sua única atividade profissional. Logo que optou pela Administração, empregou-se numa representação comercial de veículos, a Propal Propaganda e Representações. Começou como vendedor, atendendo a revistas e jornais de Caxias do Sul - sua cidade natal - e região, que visitava com seu fusca. Logo, passou para a área de gestão da pequena empresa. "Trabalhava de manhã e de tarde. Das 19h às 21h, fazia a faculdade e, das 22h à meia-noite, todos os dias, eu treinava. Nos finais de semana, quando não tinha jogo, viajava para o interior." Foi assim durante seis anos, tempo que levou para concluir o curso, que normalmente exige quatro dos alunos: "Só podia assistir às aulas nos dois primeiros períodos, senão perdia as partidas".


Carreira comercial


Embora diga que não planejou seguir carreira na área comercial, sempre atuou nesse ramo. Talvez a filiação tenha tido influência: Roberto é filho de Luiz Pauletti, um dos pioneiros da Publicidade gaúcha. Apenas por um breve período teve uma experiência em Administração de Materiais, o suficiente para perceber que não era sua praia. Quando Renato Ribeiro comprou a Companhia Jornalística Caldas Júnior, em 1986, o profissional foi convidado para ser diretor comercial do Correio do Povo, função que desempenhou até 1993. Nos últimos quatro anos na empresa, exerceu o mesmo cargo, só que nas rádios Guaíba AM e FM. Seu trabalho chamou a atenção da RBS, que, em 1997, o contratou para a gerência-geral de suas rádios.


"Fiquei três anos nas rádios e fui promovido a diretor de uma área corporativa, a RBS Interativa, onde atuei por mais um ano e meio. Depois, fui para um lugar muito prazeroso para mim, que foi a direção da TVCom, onde fiquei cinco anos. Foi um projeto muito legal, que a RBS mantém hoje. Quando assumi, ela tinha um problema de indefinição, era um deck up da RBS TV. Nós a fizemos virar uma TV completa, independente. Tem toda a sinergia da RBS Vídeo, mas vive com as próprias pernas, e conta com um excelente conteúdo", diz orgulhoso. Missão cumprida na emissora, Roberto voltou sua atenção para a entrada do Grupo Record no Estado: "Naturalmente, fiquei muito ouriçado, como todos os profissionais do mercado. Esse movimento é um ganho para todos nós. Mas fiquei só observando, porque estava bem e feliz. A RBS é uma empresa muito boa de trabalhar".


De volta à origem


Roberto também estava sendo observado pelos novos executivos da Caldas Júnior. O presidente da empresa, Jerônimo Alves, e o vice, Luiz Cláudio Costa, o chamaram para disputar aquela vaga que já ocupara, a direção comercial do Correio do Povo. Foi escolhido e, apesar da tristeza em deixar a TVCom, se diz realizado no trabalho. Elogia, inclusive, a estrutura hierárquica montada pela Record: "É muito legal, porque tem uma área acima dos diretores operacionais - que é o meu caso -, com presidente, vice-presidente e demais diretores, como se equivalesse a um conselho. E abaixo deles, há executivos responsáveis pelas operações. Achei essa forma atraente e estava muito a fim de entrar nesse barco. É um projeto vencedor e o mercado gaúcho vai ser imensamente beneficiado".


Sobre a concorrência com sua empresa anterior, o profissional não se intimida. "É inevitável, quem não trabalha na RBS, tem que bater nela. É a referência. No caso das rádios, a diferença ainda é grande, em TV, também, mas já deve mudar. Já em jornal, não. Zero Hora tem apenas 8 mil ou 9 mil jornais a mais por dia que o Correio do Povo. Pode-se dizer que é um empate técnico em circulação. Ou seja, o Correio é um projeto vencedor. Com pequenos ajustes, que já estão sendo encaminhados, podemos virar o jogo", promete. "E estou tão integrado que parece que nunca saí daqui", brinca, embora a camiseta da TVCom emoldurada, com a assinatura dos antigos colegas - entre eles, Lasier Martins, Tânia Carvalho, Túlio Milman, Pedro Ernesto Denardin e Ico Thomaz -, entregue esse hiato de 10 anos fora da Caldas Júnior. "Tem prêmio maior? Não tem, né? Foi uma surpresa, até chorei quando saí de lá", revela.


Viagens e futebol


Além da atuação em veículo, há 12 anos, Roberto associou-se à DC Tur, operada por sua esposa, a bacharel em Turismo Ligia Ayub Pauletti. "A agência é um case de sucesso. Falo sem problema de auto-elogio, porque é verdade. Ela achou seu nicho. É uma butique especializada, não uma loja de varejo", comemora. Há quatro anos, o casal adquiriu a totalidade da empresa. "Hoje, somos os donos, temos cinco funcionários e minha filha Roberta, também formada em Turismo, trabalha lá", conta. Roberto e Ligia estão casados há 28 anos e ainda têm Carolina, que é pedagoga. A atuação nessa área veio a calhar, já que a família adora viajar. As filhas já moraram fora do país e o casal faz, todos os anos, pelo menos uma viagem para o exterior. "Não abro mão de férias, mas também viajamos muito a trabalho", explica.


Também não dispensa o futebol. Joga duas vezes por semana com uma turma de ex-profissionais. "Sou colorado, mas não sou secador do Grêmio. Só hoje!", brinca, se referindo à final da Copa Libertadores da América, disputada no dia da entrevista. Outro esporte que pratica regularmente é tênis. Pauletti reclama da falta de segurança nos estádios e, por isso, prefere assistir às partidas em casa, pela televisão, que também adora, especialmente documentários, telejornais e filmes. "Não vou a campo, porque acho que o futebol está com um problema, está degradado. Passou a ser um campo de soluções de coisas não resolvidas. Há pessoas que intimidam um estádio inteiro com a violência e não têm repressão. A maioria vai para curtir e se divertir, mas tem uns caras que chegam antes para ficar bebendo, se drogando e depois quebrar o pau. Quando a polícia chega, bate em gente que não tem que apanhar. E, pô, é uma coisa que não é difícil resolver", ressente-se.

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