Soraia Hanna: Nos caminhos do acaso

Com 22 anos de profissão, a jornalista Soraia Hanna conta o que a levou a trocar a Medicina pela Comunicação

Soraia Hanna - Reprodução

Por Karine Viana, em 13/06/2014

Acaso e coincidência. Estas duas palavras frequentemente aparecem nas histórias que compõem a trajetória pessoal e profissional da jornalista Soraia Hanna. Embora popularmente sejam considerados opostos ao que se denomina destino, estes acontecimentos não arbitrários foram determinantes na construção do perfil de Soraia Hanna, uma mulher-família, comprometida com o trabalho e protagonista de boas histórias.

Ao se observar uma carreira consolidada na área de Assessoria de Imprensa, como a de Soraia, estima-se que as aptidões e trajetória até que prestasse o vestibular tenham lhe indicado o caminho da Comunicação. Neste caso, porém, a estrada não foi tão óbvia. Nascida em 3 de fevereiro de 1973, aos 16 anos fez sua primeira seleção para ingressar no curso de Medicina da Universidade Federal de Santa Maria. A boa nota, no entanto, não fora suficiente para o ingresso em um curso tão disputado. A segunda tentativa foi na Unijuí, que recém disponibilizara o almejado curso. Soraia foi aprovada, mas viu a admissão barrada temporariamente por uma decisão do MEC.

O ano era 1992 e, enquanto aguardava o desenrolar da situação acadêmica, a então aspirante à médica, que contava com uma boa oratória e ótima capacidade de comunicação, foi convidada por um amigo, o candidato a prefeito Mário Antônio Franco, a organizar um programa de rádio para a campanha. "Montei um grupo e ele que, segundo as pesquisas, era o último colocado, perdeu as eleições por cerca de somente 90 votos", relembra. Depois da façanha, que lembra com orgulho, incentivos para que cursasse Jornalismo não faltaram. Como não estava muito satisfeita com a vida em Santa Maria, acatou a sugestão de ir a Pelotas. Iniciava ali uma trajetória com bons amigos, numa cidade que, julga, foi abençoada.

Traços importados

Fisicamente, Soraia garante ter herdado características tanto maternas quanto paternas, numa mistura de descendência árabe e alemã. Os traços do pai, no entanto, parecem mais marcantes. Dawud Mansur Hanna, já falecido, foi um comerciante palestino que chegou ao Brasil aos 25 anos. No pequeno município de São Vicente do Sul, a 87 quilômetros de Santa Maria, casou com Alvina Haigert Hanna e teve três filhas, Sara, Soraia e Aziza.

Mais do que características físicas, ensinamentos como proximidade e respeito também foram heranças dos pais. Soraia credita ao modo como passou a infância, quando sentava em frente ao comércio do pai, a consolidação dos valores que hoje carrega. "Lembro de ficar na frente da loja, observar as pessoas passarem e conversar com cada uma delas", diz. Este tipo de relação não só remonta sua ligação com a cidade onde cresceu, como lembra sua área de atuação profissional, onde ouvir e respeitar as opiniões alheias são prioridades. A capacidade de negociação do pai e o espírito aguerrido da mãe acrescentam-se às suas características.

Um dos acasos na vida da jornalista se deu em 1996, na cidade de Bournemouth, na Inglaterra. Durante um intercâmbio, Soraia conheceu o suíço Ender Tunali, com quem, de volta ao Brasil, trocou muitas cartas até consolidarem um relacionamento. Hoje, o casal tem dois filhos, os pequenos Munir e Sami, de quatro e três anos. A coincidência fica por conta da ascendência turca de Ender, cujas referências familiares se assemelham muito às de Soraia. "Há muita similaridade. Mesmo tendo-o encontrado longe, era como se fosse alguém da minha aldeia", complementa.

Soraia garante que já passou por inúmeras histórias engraçadas e inusitadas, tanto no ambiente de trabalho quanto familiar. Uma delas deu-se enquanto viajava para a Turquia. Embora descendente de turcos, Tunali passa facilmente por alemão ou suíço, o que acabou por confundir um taxista que teria se dirigido à Soraia: "O que você, uma turca, quer namorando um estrangeiro, com tanto conterrâneo por aí?".

Consolidação profissional

Antes da passagem pela Inglaterra, tão logo ingressara na faculdade de Jornalismo da Universidade Católica de Pelotas, ainda estudante engatou um estágio na área de eventos do Grupo RBS. Dali, seguiu para o departamento de marketing de um importante grupo, a convite de amigos em comum. Tudo mudou em março de 1995, quando se transferiu para a Capital e passou a estudar na PUC.

Nesse período, trabalhou como estagiária da assessoria de imprensa da Casa Civil do governo do Estado, época da qual lembra com carinho, incluindo os primeiros chefes: José Luiz Monteiro Fuscaldo, Nikão Duarte e Luiz Fonseca. Passou ainda pela Secretaria Geral de Governo e Secretaria de Desenvolvimento, tudo durante o Governo de Antonio Britto.

Já graduada, em 1999, a assessora de imprensa começou a trabalhar na Assembleia Legislativa, onde permaneceu por quatro anos. Na sequência, voltou a atuar no Governo do Estado, sob a gestão do então governador Germano Rigotto, passando pela coordenação da Editoria do Interior, Casa Civil e, no último ano, atuando diretamente com o governador do Estado.

Soraia não hesita em dizer que atuar ao lado do governador foi o período de maior desafio na sua carreira. Ela atribui a isso o alto grau de responsabilidade que é estar sempre bem informado, filtrar e avaliar bem estas informações. "Tu estás num cotidiano direto com o governador, sabendo de assuntos importantes e sigilosos, tendo que manter confiança e serenidade", justifica. Pé no chão, ela afirma que nunca se deslumbrou com o poder; mesmo sob um grande cerco, sempre teve discernimento em dar a todos um tratamento igualitário, correto e idôneo.

Reconhecimento

"O poder é efêmero e o que permanece são os valores", acredita Soraia, depois de atuar em diferentes eixos nas gestões de Britto e Rigotto. Fala de cadeira, depois de ter coordenado a Assessoria de Imprensa do Banrisul, no período de 2007 a 2011, seguindo para a Secretaria de Desenvolvimento e Produção de Investimento, onde permaneceu até o final de 2012. Observa-se, assim, que também teve ativa participação nos governos de Yeda Crusius e Tarso Genro. "Os cargos vão e o que fica são as relações bem construídas", diz, quando se constata que atuou em governos do PMDB, do PSDB e do PT.

Não vê conflito político nenhum aí: com seriedade e profissionalismo, conquistou respaldo profissional independentemente de corrente política, marca que ela julga interessante na consolidação de uma carreira. E foi justamente esse reconhecimento que a levou a compor uma sociedade na Critério - Inteligência e Conteúdo. Ao lado de Cléber Benvegnú, Rafael Codonho e Tomás Adam, conduz sua primeira experiência na iniciativa privada, onde agrega seu conhecimento nas áreas política e econômica.

Embora acredite que sempre haja algo para se buscar, Soraia Hanna sente-se plenamente realizada. "Mas a caminhada está sendo bonita", garante. A jornalista afirma sempre planejar aquilo que quer e que, neste momento, tudo caminha de acordo com o que almejou. Apesar disso, ainda vê espaço para crescimento com o time que está à frente da Critério.

Em família

Por gostarem muito de viajar e também por questões familiares, a tendência é que, futuramente, a família Hanna Tunali busque ampliar os caminhos com uma temporada no exterior. Hoje, as crianças já são estimuladas a praticarem diferentes idiomas. Soraia só se dirige aos meninos em português, enquanto Ender se divide em uma semana falando turco e, na seguinte, se comunicando em alemão.

A atenção voltada às crianças é permanente, não só com a preocupação educacional como em relação ao bem-estar familiar. "Somos muito família, nosso lazer é sempre para os quatro", revela Soraia. Com aptidão pela cozinha, ao menos uma vez por semana a jornalista se dirige ao Mercado Público na busca de ingredientes para os pratos preferidos das crianças: cordeiro e salmão. Além disso, caminhadas e atividades ao ar livre também são incorporadas ao cotidiano do quarteto.

Apesar das coincidências familiares, há também algumas diferenças no que se refere à religião, questão que passa longe de dividir as opiniões. Os votos de casamento foram realizados numa igreja católica, já que o pai de Soraia era de origem cristã-ortodoxa e no Brasil todos eram católicos. Ender, por sua vez, é mulçumano, motivo pelo qual o casamento foi misto, incluindo entrega de joias, tradição na Turquia. "Ele é muçulmano, eu sou cristã e nós somos de Deus", diz Soraia. "Não frequentamos nem uma nem outra religião, deixamos as crianças livres. Somos do ensinamento do bem, da moral e do certo. Esta é a nossa religião."

Fontes de aprendizado

Comprometimento, paixão e memória aguçada são algumas das características pelas quais Soraia é reconhecida. Muitos já a denominaram workaholic, devido à proeza de intercalar a organização de uma entrevista coletiva à amamentação do filho caçula. É isso que lhe imprime na testa o selo de uma pessoa dedicada e de fácil acesso. Em contrapartida, admite que é sanguínea, cujo semblante demonstra claramente quando não gosta de alguma coisa. "Mas sou uma pessoa que, pode ter certeza, se acho que me alterei ou, de alguma maneira, tenha magoado, não tenho o menor orgulho ou problema de me desculpar", diz.

Simplicidade é confessadamente seu grande desafio. "Isso é muito difícil. É uma questão de buscar sempre a simplicidade em tudo, nas relações de amizade e profissionais, no sentido verdadeiro e transparente, valorizando o que merece", destaca. Com isso, Soraia não esquece os nomes daqueles que de alguma forma lhe auxiliaram na vida profissional, e aí faz questão de citar novamente Fuscaldo e Nikão, ao lado dos ex-secretários Nelson Proença, Mauro Knijnik e Alberto Oliveira; do ex-governador Germano Rigotto; dos ex-presidentes do Banrisul Fernando Lemos e Mateus Bandeira; e dos jornalistas Alexandre Elmi e Flávio Dutra. A vida familiar, também afirma, é uma das grandes responsáveis por estes aprendizados: "Ela te ensina muito o que é prioridade e aí tu consegue discernir melhor suas ações, seu dia a dia e a construção disso tudo".

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