Valéria Deluca : Lições do dia a dia

Hoje como docente, a jornalista Valéria Deluca revela experiências e aprendizados da profissão

Jornalista, professora, mãe, esposa. São muitas as faces de Valéria Deluca, que, reunidas, compõem a personalidade dessa profissional. Alegre, agitada, espontânea e até irônica, a mulher de baixa estatura cresce durante a entrevista e demonstra realização e paixão ao rever a trajetória profissional e falar sobre a família. Aliás, ela traz no pescoço a prole: em formato de pingente, são representados os filhos Fabiana, Arthur e Gabriela.
Mestre e doutora em Comunicação Social com ênfase em organizações pela PUC, atualmente leciona no IPA, no IBGEN, e presta consultorias. Quando criança, queria ser astronauta, mas um teste vocacional, na época da escola, indicou as áreas de Comunicação e Direito. Optou pelo Jornalismo, onde teve a oportunidade de trabalhar como produtora ao lado de nomes como Ana Amélia Lemos, Ruy Carlos Ostermann, Paulo Sant"Anna, Armindo Antônio Ranzolin e Tânia Carvalho.
Natural de Rio Grande, graduou-se na Universidade Católica de Pelotas, em 1993. Formada, pediu uma indicação ao então vereador de sua cidade natal Vilson Marcos Branco e, pouco depois, descobriu que seu currículo havia chegado às mãos de Ana Amélia, à época diretora da sucursal do Grupo RBS em Brasília. Foi quando recebeu o convite para atuar, no Distrito Federal, durante as férias do produtor do programa Gaúcha Atualidade, da rádio Gaúcha, que tinha a jornalista entre os apresentadores.
A viagem de ônibus durou dois dias e meio, a experiência 30 dias, mas o aprendizado, diz, carrega ainda hoje. Para a volta, ganhou de Ana Amélia uma passagem de avião, como demonstração de gratidão ao envolvimento com o trabalho.  Relembrado como um grande elogio, o ato partiu daquela que Valéria considera uma inspiração no meio profissional.
Um pouco de sorte
Valéria não tem dúvidas que é persistente e determinada, mas reconhece que a sorte sempre esteve presente. Logo que chegou a Brasília, ouviu que poderia levar ao Atualidade qualquer personalidade da política que estivesse na capital federal. Sugeriu o então ministro da Fazenda, Pedro Malan, que dificilmente concedia entrevistas. A apresentadora concordou: "Se tu conseguires?" Valéria solicitou a participação do político. Mais tarde, recebeu um telefonema de Ana Amélia. "Queria te parabenizar. Tu conseguiste a entrevista com o Pedro Malan", lembra, reproduzindo o tom de voz da jornalista.
Rememora outra ocasião, na qual havia agendado com o procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, para uma entrevista no programa de segunda-feira. Durante o fim de semana, no entanto, estourou uma polêmica, em que a Igreja Universal foi acusada de desvio de dinheiro e o responsável pela análise do caso seria Brindeiro. Na data marcada, a imprensa nacional se reuniu em frente à sucursal, para pegar o depoimento do procurador. A maior parte das perguntas, no entanto, já havia sido respondida no Atualidade.
Certa vez, recebeu de Ranzolin a tarefa de agendar entrevista com o argentino Domingo Cavallo. Sem saber como dar o primeiro passo, comentou que a assessoria de imprensa do político deveria ficar em Buenos Aires. Foi quando obteve a solução. "Liga para a rádio Mitre, nossa associada da Rede Gaúcha Sat", disse a telefonista. "Coloquei o espanhol em dia, liguei e ele aceitou. Pensei: "o que está acontecendo com o universo? " Se tudo isso é sorte, vou jogar na Mega (sena)", comenta aos risos. Na conversa, Domingo Cavallo anunciou, em primeira mão, a pré-candidatura a presidente da Argentina. "Claro que a pauta veio do Ranzolin, mas, no papel de produtora, me senti muito responsável por tudo aquilo", garante.
Desafio da docência
Frente à realidade da notícia, buscou nos livros as respostas para as inquietudes da profissão. O estudo a levou de volta ao meio acadêmico. Foi assim que concluiu o mestrado e doutorado. Em 2002, ingressou como professora nos cursos de Comunicação da Feevale e coordenadora da TV da faculdade, instituição que foi a porta de entrada para a docência. "A BR-116 mata qualquer um", brinca, referindo-se ao cansaço provocado pelas viagens frequentes a Novo Hamburgo, cidade onde se localiza a Feevale. E completa: "Saí de coração partido. Foi um lugar que gostei muito de trabalhar, um lugar onde aprendi muito", explica, relacionando sua saída com um convite recebido para ministrar aulas no IPA.
Na nova instituição, além das aulas, também coordena o laboratório de televisão. Outra atividade que faz com bastante gosto é a orientação de trabalhos de conclusão de curso (TCC). "Um dia, se pudesse faria só isso", conta. Como professora e convidada, lecionou em cerca de oito instituições de ensino superior, entre graduações, pós-graduações e diversas empresas como MBAs in company.
Ainda que tenha cursado Magistério quando adolescente e finalizado o doutorado em 2007, entende a docência como um eterno desafio. Em frequente mudança, a sociedade, segundo ela, exige dos mestres a atualização constante. Portanto, para disseminar o conhecimento, cabe ao professor estabelecer conexões: "Se for preciso dar aula de História na disciplina de Teorias da Comunição, dê aula de História", ressalta.
"Aprendi com o Jornalismo"
Valéria costuma aproveitar ao máximo todos os lugares por onde passa. Tanto as situações simples como as complicadas podem render uma boa lição. Em uma delas, por exemplo, o convidado agendado para o Gaúcha Entrevista, de Ruy Carlos Ostermann, não compareceu. O detalhe é que a vinheta de abertura do programa já estava no ar. Ao comentar com o colega Felipe Vieira, que gostaria de contatar o jornalista Marcelo Resende para falar sobre o caso "Favela Naval", recebeu o telefone de Caco Barcelos. O resultado foi uma conversa bastante envolvente com os dois jornalistas, que dividiam a linha telefônica, direto do Rio de Janeiro. Da ocasião, tirou o exemplo de sempre compartilhar a agenda de contatos com os colegas.
Outra característica que desenvolveu ao longo da carreira foi a de se deixar envolver completamente pelo trabalho exercido, se "atirar de cabeça", como se refere. Valoriza o conhecimento e as experiências adquiridos em cada oportunidade que teve. "Sabe aquelas questões trabalhistas, de horas extras? Troco todas pelo aprendizado", esclarece.
Os quatro amores
A primeira gestação foi logo após a apresentação de sua tese de doutorado. Fabiana, hoje com quatro anos, veio ao mundo no aniversário de Valéria. "Foi o meu presente", diz. Oito meses após, ela e o marido, Fábio Carvalho, decidiram dar um irmãozinho à pequena. Fizeram uma tentativa, como comenta, e vieram os gêmeos Arthur e Gabriela, atualmente com dois anos e 10 meses. Surpresos, perguntavam à médica, "não tem mais nada aí?"
Para dar conta dos três, organizou o que chama de sua "equipe de trabalho", na qual duas babás se revezam nos cuidados com as crianças. Há mais tempo com a família, ela conta que Michele era "sua "babá"", ao lembrar que a funcionária antes cuidava de seu apartamento. Já Tetê foi contratada como reforço após a chegada da dupla.
Para conhecer o esposo, teve a ajuda de um colega na rádio Gaúcha. Havia dito ao amigo que gostava de homens altos e de olhos claros, ao que recebeu de Vinícius Carvalho, o nome do irmão, Fábio - que na época estava namorando. Passado algum tempo, pronta para ir ao Reveillon do Grupo RBS, recebeu uma ligação de Fábio perguntando por ingressos para outra festa. Disse que tinha apenas para a de fim de ano e que os convidados deviam usar traje de gala. "Em 20 minutos, ele conseguiu smoking e carro e me ligou de volta", lembra. Começava ali a história que perdura há 12 anos.
Debochada, mas respeitosa
Valéria assume que é debochada, particularidade que exige bastante cuidado e conhecimento de limites. Diz que, por vezes, é impositiva, mas que a maternidade trouxe um pouco mais de calma. "Se as crianças entram em surto, não posso fazer o mesmo", diz em tom de brincadeira. Garante que, com o tempo, compreendeu a importância de respeitar os motivos dos outros. "Aprendi a perguntar "será?" Será que precisa ser do jeito que eu quero? Será que não tem um outro ponto de vista para essa situação?", questiona-se. Serenidade é o que busca para o futuro. Também quer ter a chance de organizar melhor o tempo, viajar e conhecer o mundo.
Como hobby, gosta de decoração de ambientes. "Tenho bom gosto, modéstia à parte", garante. Outra atividade que adora é cozinhar. De pratos simples aos mais rebuscados. "Sabe quando as pessoas provam e fazem: "Uhmm?" É um reconhecimento. Isso me traz satisfação, assim como no Jornalismo", revela.
Filha da professora Carmen Deluca Soares e do torneiro-mecânico José Roaldo Soares, Valéria é a primogênita da família, formada também pelos irmãos Aline e Maximiliano, hoje com 35 e 38 anos, respectivamente. Dos pais, recebeu apoio durante toda a trajetória profissional e pessoal. Foi deles que herdou o respeito, a educação e os valores que hoje transmite aos filhos. Acredita que "a vida é um bumerang. Tudo que vai, volta".
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