Padrinho Conteúdo: Uma rede de dindos
Empresa de Comunicação atua há cinco anos por meio de parcerias e apostando em projetos diferenciados
As mesas, por exemplo, são portas que receberam adesivagem e foram colocadas em cima de cavaletes, além de garimpos feitos em briques e lojas que possuem objetos criativos, como caixotes, uma pia amarela, além de uma pequena geladeira que compraram de um bazar de uma agência que estava se mudando. Com muitas cores, a sala representa a descontração da equipe - que é completada pelos jornalistas Pedro Pereira e Renata Crawshaw. Ela, inclusive, é quem nomina o ambiente de reuniões: um sofá. Isto porque ela dorme por volta de 20 minutos todos os dias após o almoço. E, dentre as opções, a cozinha e o espaço onde fica a máquina de café são apontados como os ambientes favoritos. Sem um local específico para encontros e bate-papos sobre as demandas, pois esses são totalmente informais, muitas vezes ainda sentam no chão. "Tentamos quebrar isto de ser mais formal porque acreditamos que, estando mais soltos para uma reunião interna, a criatividade aflora mais", explica Alexandra. O mesmo se deve aos convidados: eles são sempre recebidos com comidinhas especiais para um café da manhã, como pães de queijo e frutas frescas. Segundo eles, poderiam ter divisórias internas e separar tudo, mas nem cogitaram. Isto porque procuram desburocratizar o máximo que podem.
Dindos parceiros
Quem visita gosta tanto do clima da Padrinho, que acaba transformando a sede em uma espécie de coworking. Dentre as visitas que trabalharam com o time por um tempo, está o pessoal da Filtro. Em 2018, fizeram uma parceria com a empresa de checagem de notícias para verificação de informações durante as eleições. Naquela época, a sede abrigava nove pessoas. O resultado veio por meio do segundo lugar que tiraram no Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo. Conforme Carlos, eles são os reis da parceria, pois é um dos cernes da empresa. "Elas fazem parte do DNA. Olhamos muito menos como concorrência e mais como união de forças. Não consigo enxergar diferente", explica. Com a República, por exemplo, trocam informações. Para isso, tentam formar uma rede maior para estarem mais protegidos - em relação às companhias maiores. Veem isso como parcerias, ao fazerem muitos trabalhos juntos, pois têm um foco na qualidade da entrega e de ajudar a melhorar o mercado. Com esse entendimento, acreditam que o DNA da Padrinho é ser uma rede. Ajudam e se preocupam com muitos, desde presentear o porteiro que cuida deles com um livro, até se envolver na história de quem faxina a sede. "Se não fosse isso (rede), não teria a Padrinho", aponta Carlos. Os clientes são outro exemplo. De pessoas que contratam o serviço da agência, passam a amigos, até mesmo frequentando a casa uns dos outros, e realizando ligações de desabafo. Inclusive, o nome da Padrinho surgiu de uma ideia de ser dindo, ou seja, de abraçar e acolher. "Quando definimos o nome, queríamos algo que fosse bem amigável e próximos dos clientes. Uma relação de carinho, cuidado e tratar bem", relata Alexandra. Hoje, ela define a agência como um organismo muito acolhedor. Contam de maneira singela e nada ostensiva que estão sempre com um projeto pró-bono, como fazer a assessoria para artistas sem dinheiro, mas que acreditavam no projeto, ou um grupo de pais que perderam filhos. Além de fazerem matérias especiais e distribuírem para rádios do interior que não têm como produzir esses conteúdos.
Happy Hours
Mesmo que, às vezes, estejam com fones de ouvido bons, os quais permitem a concentração de quem não pode interagir no momento, é difícil ter períodos longos de silêncio. Isto porque compartilhar é mais do que um verbo na agência. Comentam e enviam desde textos até o que estão fazendo no momento quando não estão juntos. Possuem um grupo de WhatsApp onde falam sobre tudo; entretanto, trabalho é o assunto que menos aparece por lá. Um dos segredos é que o time não pessoaliza os comentários e críticas e tem liberdade para opinar sobre o trabalho dos colegas. Outro segredo para tamanho entrosamento é o respeito que possuem uns com os outros. "Sempre pedimos 'por favor' e nos abraçamos na chegada e na saída. Nosso mantra é não repetir o que não gostamos nos outros ambientes que trabalhamos", compara Carlos. E é exatamente por isso que Renata enfatiza: "A gente se diverte trabalhando e trabalha se divertindo". Enquanto têm folga no dia do aniversário, além de ganharem uma lembrança e celebrarem, no resto do ano as confraternizações continuam. O ano de 2019 já começou com tudo quando realizaram uma festa na sede que, inclusive, ocupou o corredor do prédio, para comemorar os cinco anos da empresa, cuja senha do wi-fi é "melhor agência". Já em 2018, outro momento atípico foi a celebração de final do ano: toda a equipe foi passar um final de semana na praia, em uma casa de frente para o mar. Além destes, eles ainda recordam o churrasco que fizeram na casa da Alexandra para assistir a um jogo da Copa do Mundo, a festa junina em que reuniu todos os vizinhos de prédio na sala deles e, até mesmo, uma tarde em que foram ver, em um bar, um jogo do Grêmio no Campeonato Mundial - todos menos o colorado Carlos. Contudo, o mais frequente de todos é o almoço na churrascaria Giovanaz, sobre a qual brincam que é uma extensão da Padrinho. Inclusive, quando resolvem ir lá, decidem não voltar para trabalhar - como a refeição é muito boa para eles, acabam comendo muito e vão direto para a casa descansar. "Esta liberdade chama tanto a atenção de outras pessoas, mas acreditamos que não é nada demais", assegura Carlos.
Família unida
Tudo isso acontece por não possuírem horário rígido e fixo e acreditarem na maturidade de cada um em relação às entregas e aos prazos. Renata, por exemplo, é baterista e ensaia com sua banda das 13h30 às 15h alguns dias da semana. Alexandra acredita que, com mais liberdade, a produtividade é maior e mais saudável. Por isso, comentam que a partir das 9h a equipe começa a chegar. "Claro que não pode chegar às 18h e sair às 18h30", brinca Carlos. A informalidade também está presente em relação às roupas que usam. Quando ficam todo o tempo na redação, os meninos usam bermuda, por exemplo. Já os sapatos são itens que nem constam no vestuário: adoram ficar de pés descalços e pretendem, no inverno, levar pantufas. Também não são apegados a rótulos. Apenas Renata tem o cargo de editora e tem obrigações a mais do que Pedro, conhecido por Pepe. Enquanto Carlos lida mais com a parte comercial, Alexandra fica à frente do conteúdo e faz o relacionamento. Ainda assim, cada um faz um pouco de tudo. O time ainda é completado pela designer Juliana Reiss, que atualmente mora na Irlanda e trabalha temporariamente a distância. Mesmo quem deixa a empresa continua a fazer parte do time. Pedro e Renata conhecem e até saem com diversos antigos colaboradores - muitos até que não chegaram a trabalhar na mesma época. Como uma família, comentam que é muito mais do que trabalho. Todos conhecem os problemas de cada um, além das famílias que, frequentemente, os visitam e criam laços afetivos formando uma grande equipe, que ultrapassa a fronteira profissional. Sobre os pupilos, Alexandra conta que logo no primeiro dia houve um grande entrosamento. "Parecia que o Pedro e a Renata eram amigos de anos", lembra. Com dois meses de diferença na agência, enquanto ele mandou currículo e ela foi uma indicação, o que não falta são fatos em comum. Os dois são alegretenses e vizinhos. Por isso, dividem a vaga do estacionamento e todos os dias vão e voltam juntos do trabalho - o que acabou gerando ao jornalista o apelido de 'Pepuber'. Ele ainda é considerado o tiozão da turma, pois conta piadas velhas e está sempre com dinheiro na carteira. O humor está presente o tempo todo na Padrinho e eles acabam sempre provocando uns aos outros. Carlos, por exemplo, divertiu-se um dia dizendo que era Alexandra - enquanto ela não estava na empresa. Para isso, sentou-se na mesa dela a imitando, e enviou uma foto para a sócia deste momento. Porém, ele também é alvo de brincadeiras. Como os colegas sabem que ele possui uma espécie de toque para saber se as portas estão, de fato, chaveadas, gravaram um vídeo trancando a da sede da Padrinho e o enviaram.
Resultado dos fundadores
A Padrinho nasceu em conversas de bar devido ao descontentamento com o modelo de mercado, muitas vezes unilateral, dos amigos jornalistas Alexandra e Carlos. Eles, que trabalharam juntos em 2004, carregam até hoje uma forte e duradoura relação de união e companheirismo. Sem nenhum investimento, inclusive, decidiram que iriam trabalhar à distância, cada um na sua casa. Deixando as redações de Zero Hora (Carlos) e Terra (Alexandra), foram atropelados por uma realidade complicada em um mercado competitivo. "As parcerias nos ajudaram muito a nos segurar", recorda Carlos. A primeira delas foi com uma designer que tinha um escritório com espaço para outras pessoas. Com isso, acabaram realizando uma troca: a dupla foi trabalhar no local, enquanto a vizinha de espaço ganhou a produção de conteúdo para o site de seu empreendimento - a Plexo. Na visão dos fundadores, a Padrinho é o resultado do complemento entre o Carlos, mais protocolar e linear, e a Alexandra, mais intensa. E, com tamanho encaixe, apostam que hoje o diferencial da empresa é ter uma entrega boa e um atendimento aproximado aos clientes. Como é o caso das coberturas de eventos, em que montam kits para estrangeiros como telefones importantes, guaraná e erva de chimarrão. E é exatamente por isso que não fazem assessoria de Imprensa, mas de Comunicação. Afinal, o intuito é sempre oferecer o melhor às pessoas.