Luiz Carlos Reche: Mania de trabalho

Prestes a cobrir sua sexta Copa do Mundo, Luiz Carlos Reche fala sobre a rotina de seus 24 anos na emissora

Reche - Reprodução

Um dos mais conhecidos jornalistas esportivos do Estado e uma das vozes características da Rádio Guaíba. Eis dois cartões de apresentação do chefe do Departamento de Esportes da Guaíba, o jornalista Luiz Carlos Reche, que está há 24 anos na emissora.

O ex-vendedor de pastel, que nasceu em 7 de dezembro de 1963, em Lagoa Vermelha, embarcou nesta semana para a cobertura de sua sexta Copa do Mundo. Interrompido durante toda a entrevista por telefonemas ou pessoas da redação que entram em sua sala para conversar, Reche não perde nunca o bom humor. O local, decorado por quadros com fotos de partidas de futebol, uma mesa com um computador, papéis, livros e um porta-retrato com a foto da família, mostra a simplicidade e valorização de Reche pelo clã.

O sexto de sete irmãos teve uma infância difícil, começou a trabalhar ainda menino. Com oito anos ajudava os pais comerciantes, Maria Oro Reche e Idolfino Reche, vendendo pastéis pelas ruas de sua cidade natal. Nesta profissão permaneceu por cinco anos. "No final do dia, sempre sobrava um tempo para as 'peladas' com os amigos, nos campinhos próximos de casa", recorda.

A comunicação também sempre foi o seu forte, assim como a postura de liderança é algo que traz desde os tempos de menino, quando era líder de turma e presidente de Grêmio Estudantil. "A minha infância foi sofrida, pois no turno em que eu não estava no Colégio estava vendendo pastéis, mas foi muito boa e me traz ótimas lembranças. Tenho boas recordações, também, dos meus amigos, alguns que mantenho por mais de 30 anos" conta. Uma infância, segundo ele, de família unida, com um propósito só: de um ajudar o outro a sobreviver. "Todos tinham que trabalhar", desabafa.

Medicina, Direito e Jornalismo

Chegou a fazer três vezes vestibular para Medicina. "No interior do Estado, quem era pobre, ficava pensando em trabalhar no Banco do Brasil, ou como médico, ou dentista, pois são estas as profissões que apareciam por lá". O jovem nunca desistiu de estudar e, movido pela vontade de ser alguém e ter uma profissão, formou-se em Jornalismo pela Pontíficia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, em 1986. Começou a trabalhar na Rádio Guaíba um ano antes da formatura. "Só trabalhei em rádio, na Guaíba", orgulha-se. Chegou a cursar por um semestre Direito na Unisinos, mas, como já viajava muito com a Rádio, acabou desistindo e assumindo a profissão. "Acho que deu certo", brinca.

Reche, que sempre gostou muito de ler, recorda que na época em que frequentava a Igreja, em Lagoa Vermelha, sempre lia muito e encenava peças de teatro. Assim como o gosto por falar em público, que também fazia parte da suas preferências na época. "Sempre fui um cara expansivo e as pessoas me diziam que eu tinha uma voz boa para o rádio, então, fui trabalhar na área".

Homem de sete empregos

O pai de Henrique, 21 anos, Gabriela, 14, e Luísa de 4, está casado há 15 anos com a fisioterapeuta Lisiane, a quem conheceu de uma forma inusitada. Em um baile, em Lagoa Vermelha, Reche encontrou uma amiga e resolveu convidá-la para sair outro dia. A moça acabou levando outras duas amigas para acompanhá-la - uma delas era Lisiane, e desde então, nunca mais se desgrudaram. "Acredito que era para ser", diz.

Quando está de folga, Reche gosta mesmo é de pegar os filhos e levá-los para o parque e, no Verão, para a praia. Mergulhar, almoçar e jantar fora, fazer churrasco em casa e tomar um vinho com a esposa também fazem parte das suas preferências. "Como tenho mania de trabalho, acabo não tendo muito tempo de folga, mas, como sou muito grudado nos meus filhos, gosto de ficar em casa com eles também".

Conectado no trabalho o tempo todo, Reche diz que raramente vai ao cinema ou assiste a um filme. "Eu vejo é futebol na televisão. Sei que isto até atrapalha um pouco a relação com a família, mas, infelizmente, para estar bem informado e poder comentar o que acontece no outro dia, eu preciso estar por dentro do que acontece". Não é de jogar muita conversa fora, pois acaba sempre falando sobre o que o identifica, que é o rádio e o futebol. Também não frequenta os estádios de futebol quando não está trabalhando, já o supermercado é uma das suas grandes diversões no sábado à tarde.

Atualmente, as leituras estão focadas na internet, mas Reche diz que lamenta ter abandonado os livros, um hábito antigo. "Como tenho 16 horas de atividade profissional por dia, não sobra muito tempo, e acabo assistindo mais televisão. Como é impossível ler um livro e assistir televisão ao mesmo tempo, acabo não lendo". Acorda sempre às 5h30 e nunca sabe a hora em que vai dormir, pois, explica, tem sete empregos. Trabalha na Guaíba AM e FM; no Correio do Povo, como colunista; na TV Record e na TV Ulbra. Além disso, é proprietário da Reche Baterias e da Agência LCR Publicidade. "Para conciliar tudo eu vou guerreando", conta.

Desde que iniciou a carreira como radioescuta na Rádio Guaíba, em 1986, não parou mais. No começo trabalhou por oito meses no Correio do Povo, para 'compor salário'. Também teve uma passagem como correspondente do jornal A Razão, de Santa Maria. Trabalhou com Edgar Schmidt para a TV Guaíba e comprou a marca do programa Cadeira Cativa, no qual se tornou apresentador. Assumiu como chefe do departamento de esportes da Rádio em 1999, permanecendo até hoje no cargo. "Sou um dos chefes que mais está durando aqui, afinal, já são 11 anos nesta função". Em seguida, revela que as coberturas esportivas são uma experiência interessante e nova a cada dia. Além das cinco Copas do Mundo, Reche já cobriu mais de 100 Gre-Nais e todas as Libertadores da América disputadas pela dupla gaúcha.

Trabalhador e honesto

Dizendo-se austero, crítico e polêmico, Reche revela que abomina o mau-caratismo, mas que é fiel com quem lhe é fiel, e que suas qualidades são ser trabalhador e honesto. E acha que é um defeito sua obsessão por trabalho, sempre preocupado em querer passar à frente na audiência, em buscar resultado e reconhecimento do que é dele e da empresa em que trabalha. "Muitas vezes, vou além dos meus chinelos e em alguns momentos isto me atrapalha, mas não me arrependo porque eu sou assim mesmo", garante.

Em 2007, quando a Caldas Júnior foi vendida ao Grupo Record, a TV Guaíba perdeu sua programação local ao tornar-se TV Record. Reche passou a apresentar o programa Cadeira Cativa apenas na rádio e foi buscando outros meios de inseri-lo novamente na televisão. Em julho do mesmo ano, o jornalista passou a apresentar, também, o Balanço Geral, na TV Record. Em 2008, deixou o programa e negociou a transmissão do Cadeira Cativa na Ulbra TV, onde é transmitido ainda hoje, de segunda a sexta-feira, às 19h45. Mesmo apresentando o programa em outra emissora, Reche sempre continuou atuando na Rádio Guaíba. "Eu não fiz muita coisa na comunicação. Basicamente, minha carreira está voltada para a Caldas Júnior", explica.

Considerando a emissora como uma 'religião' no Rio Grande do Sul, o jornalista se diz 'guaibeiro' desde criança, e que, mesmo com a empresa sofrendo mudanças, acredita que a Guaíba sempre consegue dar a volta por cima. Confirma que já rejeitou propostas de outras emissoras e assegura que hoje é mais ponderado em relação ao assunto - e acha que não pode dizer que um dia não vá sair da Guaíba. "Não é que eu tenha mudado o discurso, mas fiquei mais velho e tenho família. Daqui a pouco recebo uma proposta que me dê solidez e tranquilidade ao mesmo tempo, posso até pensar".

Porém, admite em seguida que é muito difícil sair, depois de tudo que conquistou com a Caldas Júnior, com o Sistema Rádio Guaíba Correio do Povo e agora Record. "Deixando a modéstia de lado, hoje o que estou fazendo, mais uma vez, está dando resultado. Eu consegui provar isto, fazendo cinco, seis, e até sete pontos no Ibope às 6h45 da manhã, pegando uma audiência que vem praticamente de zero. São estas conquistas acumuladas que me fazem pensar em nunca sair", explica.

Sem parar

Das muitas histórias vividas, Reche recorda da vez que voltou de viagem e Pelé desembarcou junto com a equipe da rádio no aeroporto do Rio de Janeiro. Como queria entrevistá-lo e não encontrava o gravador, acabou tirando toda a roupa da mala à procura. Foi cueca, meia e todo o resto espalhado pelo saguão do aeroporto. "Enquanto isto, o Pelé me aguardava atenciosamente". Outra vez contratou uma intérprete dentro do avião a caminho da cobertura da Copa do Mundo realizada no Japão. "Eu praticamente raptei uma coreana que estava indo visitar os familiares. Ela acabou ficando concentrada conosco durante todo o Mundial".

Para a próxima década, Reche deseja estar trabalhando menos, investindo em novas tecnologias e se especializando no progresso da internet. Para a vida pessoal, o anseio é de ser avô. "Daqui dez anos já devo ter pelo menos um neto, e tenho certeza que será uma curtição. Quem sabe eu destine para ele mais tempo do que eu destinei para os meus filhos?", desabafa.

Destacando como objetivo ser reconhecidamente líder de audiência de rádio, jornal e televisão, aponta que o melhor elogio que recebe vem do adversário. "Eles me dão pau no rádio, na televisão, mas lá entre eles dizem: 'Este é o cara!', e este é o melhor elogio que recebo, dos concorrentes, que falam mal de mim, mas sabem que no enfrentamento eu não sou sopa", brinca.

Reche destaca como referência de vida os pais, irmãos, filhos e esposa, além "dos caras que balizaram o meu comportamento ético e profissional", citando os jornalistas Marcos Martinelli, Lasier Martins, Antônio Augusto, Érico Sauer (falecido) e Edegar Schmidt. Haroldo de Souza e Lauro Quadros também estão em sua lista. "Mesmo com muitas divergências e brigas, pois trabalhamos juntos há 20 anos, o Haroldo sempre foi um incentivador. E o Lauro eu admiro, pois tenho um estilo irreverente igual ao dele", confessa.

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