O espaço sempre foi de todos. Neste mês, ainda mais, a voz vem deles

Por Luan Pires, para Coletiva.net

Luan Pires - Arquivo Pessoal

"Palavras por si só não mudam a realidade, mas a imagem sim".

"Apenas "ser/estar" significa um forte ato de resistência".

"Os espaços, seja por políticas ou enfrentamentos pessoais, é que precisam ser cavados para termos uma efetiva diversidade". 

"Ocupar espaços majoritariamente brancos é nosso direito, direito que foi negado aos nossos ancestrais"

Obviamente, essas frases não são minhas. São do Michel, publicitário e diretor da Agência Formô, do Alexandre, jornalista que atua como editor auxiliar de Cultura e Lazer na GZH, do Daniel, jornalista, radialista, escritor, crítico de cinema, coordenador de Comunicação e membro fundador e secretário da ACCIRS e da Luana, cantora, compositora, poeta, produtora cultural e redatora publicitária. Todos eles são alguns dos convidados que já passaram por esse recente espaço aqui e, como negros com diferentes vivências e pluralidades, trouxeram sua relação com a comunicação como um mosaico que se embaralha com a própria história de vida. Mas, tem uma coisa em comum que todos eles falaram, de um jeito ou de outro: sobre ocupar espaços. Lançada em maio deste ano pela Mega Brasil, uma pesquisa revela que a presença de negros nas agências de comunicação é de 20,7% (11,2% autodeclarados pardos e 9,5% autodeclarados negros). Isso apesar de pessoas negras serem a maioria da população brasileira - dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2018 mostram que 56% se autodeclaram negros. Onde está o gap?

A resposta é complexa e ao mesmo tempo simples: Equidade. Mais oportunidades (e aqui entra uma gama de políticas empresariais, públicas e sociais) geram mais espaços. Mas, não basta espaço, é necessária equidade de formação (quantos desses negros ocupam cargos de liderança?). É notável que o funil fica ainda mais estreito para a chegada de pessoas negras em cargos mais altos. Outros dados do IBGE mostram que menos de 3% de mulheres e homens negros alcançam cargos de diretoria ou gerência no Brasil. O número chega a ser três vezes menor do que mulheres e homens brancos. 

É por isso que todos os nossos convidados falam sobre ocupar espaço. 

É por isso, também, que além de ocuparem espaço por aqui, como todos os outros grupos identitários (minorias) durante todos os meses do ano, no mês da consciência negra não será diferente. Teremos diferentes perfis e olhares para falar dessa pauta com olhares múltiplos, diversos, pessoais e abrangentes de quem realmente sente na pele todos esses números. O espaço sempre foi de todos. Neste mês, ainda mais, a voz vem deles.

Aguardem os próximos conteúdos e enquanto isso, releiam os artigos dos queridos citados nesse texto:

Ponto de vista ou a vista de um ponto? 

Michel Couto

Apenas "ser/estar" é resistir

Alexandre Rodrigues

Ocupar os espaços é honrar nossa ancestralidade

Luana Fernandes

Fui, então, trabalhar... vagabundo

Daniel Rodrigues



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